Charles Neumann acordou um dia e se viu sem seu único amigo e fiel companheiro: seu aparelho celular. Procurou por todo o apartamento, sem sucesso. Ao não encontrá-lo no carro, entrou em desespero. Imagina a quantidade de informações que ele estava perdendo sem estar de posse do telefone?
Charlie é um brilhante e excêntrico engenheiro que trabalha para uma das principais empresas de tecnologia do mundo, a Futuro Melhor. Ainda atordoado pela ausência do celular, ele se envolve em um acidente de trabalho que acaba por lhe esmagar a perna. Amputado da coxa para baixo, passa a utilizar uma prótese já moderna, mas que, utilizando seus conhecimentos de ciência e engenharia, consegue transformar em algo ainda melhor.
''Por que se contentar com algo medíocre se pode ser substituído por algo melhor? É como um carro que utiliza uma perna humana no lugar de uma roda'', argumenta o protagonista de ''Homem-Máquina'', livro do australiano Max Barry (foto abaixo) que, com muita ironia e bom humor, critica uma sociedade cada vez mais dependente da tecnologia.
Realizando cada vez mais sacrifícios em nome da ciência ou por interesses próprios (será que os grandes inventores não agiam em interesse próprio?), Charlie se apaixona por Lola Shanks, uma especialista em próteses e a única pessoa a entender o comportamento do engenheiro, que passa a ser cobiçado por sua empresa como nunca antes.
Experiência
Barry publicou uma página por dia de ''Homem-Máquina'' em seu site e foi adaptando seu texto a partir de sugestões e críticas dos leitores. Não seria errado afirmar que, devido a essa experiência, o livro tem uma leitura simples e rápida. Apesar dos capítulos serem longos, é possível parar a leitura e recomeçá-la depois sem problema algum. A interferência dos leitores também possibilita que aspectos técnicos fossem tratados de maneira simplificada, mas sem perder a profundidade, o que facilita a compreensão da trama para leitores que não possuem a menor noção de engenharia.
Contando a história pela perspectiva de Charlie, o autor se permite utilizar um linguajar bem característico de engenheiros para reforçar as esquisitices do personagem.
Charlie percebe que, à medida que se torna cada vez mais máquina, torna-se cada vez mais uma propriedade da Futuro Melhor. Por outro lado, também passa a ser mais admirado tanto na comunidade científica quanto por Lola. Para alguém que viveu a vida toda à margem da sociedade, admiração e respeito valem qualquer sacrifício.
Bem escrito e fundamentado de maneira criativa, o texto convence o leitor das loucuras do protagonista em busca de seu aprimoramento. O que poderia se tornar um drama ou uma pesada história de ficção científica acaba se mostrando um divertido e inusitado romance.
Homem-Máquina
Max Barry
Intrínseca, 288 páginas. Tradução de Fábio Fernandes. R$ 29,90
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