Em 2001, Ricardo Salvalaio teve seu primeiro trabalho publicado. O poema 500 anos de opressão é o primeiro do livro Poetas do amanhã, lançado pela Prefeitura de Vitória. Em 2006, publicou o livro de poemas O óbvio complexo, que teve apoio da Lei Rubem Braga. Sempre ligado a cultura capixaba, organiza, em 2008, a coletânea de poemas Oito vezes poeta, que teve como objetivo apresentar ao público obras de autores que não tinham ajuda cultural dos seus respectivos municípios. Em 2010, formou-se em Letras-Português na UFES e tomou posse na Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha). Atualmente, escreve para o Caderno Pensar, de A Gazeta, e é colaborador do Blog Cultural “Outros 300” (www.outros300.blogspot.com). Confira, abaixo, o poema “Ser-vício”:
SER-VÍCIO
Todo dia saio pra trabalhar
Passo pelas ruas sem notar o sol, apesar de suar
Noto a saia da abundante mulher
Só noto a saia, não noto a mulher
Noto as notas do meu notório salário
Era melhor ficar em casa ouvindo Beatles ou The Who
Não há sintonia com o natural
E a cada dia me sinto mais introspectivo e superficial
Antes ouvia a voz dos ventos
Não ligava pro conteúdo do convencional
Agora sou parte dum mundo grupal
Corro, corro, corro pra ser um marechal
Uma vereda enche o sertão, um peixe enche o mar
Antes de tentar ver o todo, deveria tentar ver em parte
Tudo está dentro de mim: natureza, destruição,
Guerra, paz, amor, traição
Não há necessidade de uso imediato
Nada mais precisa ser inventado
Nem sempre se extrai algo do que é atribuído de significado
Há muitos nomes e jogos de máscaras por todo o lado
Eu não tenho vontade de metrificar sentimentos
E nem sei se alguém quer ouvi-los
Minha vida é um circo
Sou um palhaço e domo um leão por dia
Estou cansado de ouvir, falar, pensar, sentir
Qual é o sentido de existir?
Não quero ser informado, ler no papel
Vou inventar o antitelejornal igual ao Samuel
Estou cansado de amar, odiar, entender, querer
Eu só quero ser
Eu não quero um ser-vício!