CRÍTICA DO FILME 'FAROESTE CABOCLO'
Cultura

CRÍTICA DO FILME 'FAROESTE CABOCLO'


Em tempos de várias homenagens, Renato Russo ganha mais uma nas telonas: Trata-se da adaptação de uma de suas mais célebres músicas Faroeste Caboclo. Com a dupla Fabricio Boliveira e Ísis Valverde como protagonista o filme estreou nesta quinta no estado e o Outros 300 foi lá assistir. Confira a crítica sobre o filme lendo a matéria completa.

Por Sandro Bahiense

Faroeste Caboclo

Um dos melhores do ano
Adaptação de música traz às telonas do Brasil um dos melhores filmes nacionais do ano até agora

Era impossível achar quem, após ouvir a célebre canção Faroeste Caboclo, que não a imaginasse no cinema. Demorou muito, aliás mais do que devia, mas chegou. E o melhor: Chegou para arrasar!

Com direção do estreante - mas competente - René Sampaio, 'Faroeste Caboclo' pode, desde Faroeste Caboclo - Fotojá, ser alçado ao posto de melhore filme nacional do ano. E por quê? Porque foi muito bem dirigido, roteirizado e interpretado. Deu tudo certo e o filme foi quase perfeito.

A trama

Ambientada em Brasília dos anos 80, onde João de Santo Cristo, um homem com um passado pobre, talentoso carpinteiro mas com poucas oportunidades na vida, resolve ir ao encontro de um primo estrangeiro que mora no coração do Estado onde vive. Juntos, começam a entrar no tráfico de drogas, já existente na região. Quando tudo se encaminhava da maneira como João queria, uma das entregas de drogas dá errado e João, fugindo da polícia corrupta, entra pela janela de uma jovem que vai mudar sua vida. Entre festas e tiroteios, o amor proibido se encaminha para um desfecho trágico por conta da batalha entre o carismático protagonista e Jeremias, um traficante de renome do local.

90% adaptado

Como era previsível o filme não é 100% literal até porque algumas situações criadas pelo genial Renato Russo ficariam simplesmente inverossímeis na trama criada por Sampaio, mas nada em absoluto que desvirtuasse o roteiro tão sensacionalmente bolado por Renato.

Faroeste Caboclo - FotoContudo as partes mais importantes foram deixadas, o que demonstra o grande mérito de René e de Marcos Bernstain (roteiro) em trabalhar com tão rica estória. Para evitar um tolo e óbvio desmembramento cronológico, o filme começa com João já adulto. Logo cenas como o assassinato do pai matado pela polícia, seu período no reformatório e a ida para Brasília são postos em flashback, que servem até para justificar as ações de João.

Santo Cristo, aliás, é exposto como um anti heroi. Um cara que até tem um bom coração, mas que pode matar a sangue frio sem grandes problemas na cena seguinte. João era um cara que travava uma constante batalha com a vida, no filme posta, sem politiquismo corretismo, como preconceituosa ao extremo com negros e pobres. Logo um dos primeiros temores que era a de pôr João como um heroizinho que luta pela vida foi desfeito, o que foi ótimo. João era bandido, e não havia como fugir disso.

Preocupado como o elenco quase todos de desconhecidos, acredito que a produtora Europa Filmes deva ter exigido a René que a figura mais conhecida de 'Faroeste Caboclo', a atriz Ísis Valverde, tivesse bastante espaço, logo Maria Lúcia aparece logo na segunda cena e algumas desnecessárias passagens com sua personagem até o encontro com Santo Cristo são despejadas. Nada que comprometesse o produto final, que fique claro.

O filme esquenta quando João começa a se envolver com seu primo Pablo (no filme João simplesmente o procura em vez de conhece-lo na zona da cidade como dizia a música). Lá ele é apresentado a mítica Winchester 22 e "aprende a atirar" rapidamente. Desiludido com Maria Lúcia ele começa a plantar maconha e a concorrer com o, digamos, irreverente, Jeremias. Daí até o final tudo transcorre conforme a canção lista.

A célebre cena final acontece sem bandeirinhas e o povo todo a aplaudir porque isso, concordemos, seria impossível de acontecer mesmo na Brasília dos anos 80 não é? Mérito de Sampaio em ter impedido tal descalabre para o final do filme que vinha tão bem.

Elenco

Fabricio Boliveira arrebentou. Negro até a alma (e tirando qualquer temor de que João fosse Faroeste Caboclo - Fotointerpretado por um mulato ou moreno) o ator foi tomado pelo personagem. De traços faciais bem marcantes, Boliveira conseguia transmitir as emoções do personagem o tempo todo, numa atuação correta, equilibrada e precisa. 

Felipe Adib, que viveu o Jeremias, também foi muito bem. Houve quem o acusasse de ser muito exagerado, mas rechaço tal pensamento, uma vez que o Jeremias, o personagem da música, assim o é. Intenso, descontrolado e totalmente inconsequente, o personagem foi feito da forma que devia ser. Adib, engatando seu terceiro longa em menos de um ano, é uma grande promessa do nosso cinema.

Ísis Valverde, por sua vez, era a única figura nacionalmente conhecida do filme. Atriz notadamente mediana, ela teve uma atuação... Mediana. Nada que comprometesse, apesar de uma ou outra careta exagerada e mudanças esquisitas na impostação de sua voz em alguns momentos capitais. Antônio Calloni, no papel de um policial corrupto, Flávio Bauruqui no pai de João e Marcos Paulo como pai de Maria Lúcia foram bem.

Um destaque a parte vale para César Trancoso, ator argentino que viveu Pablo. Construído de forma firme, mas irreverente, o ator, mesmo com evidente menor tempo em cena, conseguia roubá-la sempre que aparecia.


 Boliveira. Atuação perfeita.

Western

René Sampaio nos lembra que faroeste não é simplesmente um título e dirige o longa em estilo western em alguns momentos. Com influência clara do mestre dos filmes de bang bang italiano Sérgio Leone, Sampaio usa e abusa de artifícios comuns ao filmes de tal estilo. Que consegui me lembrar sem esforço, estão as tomadas em plano 1 + 1 (focando os dois duelantes e a distância entre eles), e o close nos olhos, tão imortlizados nos filmes do Clint Eastwood nos anos 60, e a trilha sonora, tão típica dos westerns também apareceu em alguns momentos.

Crítica

É indiscutível que o mérito de 'Faroeste Caboclo' foi não ter se mantido tão fiel a obra original, mas ainda assim respeitá-la e bebê-la de sua fonte o que fatalmente agradará aos fãs menos e mais fieis. Ter escolhido bem o elenco e os cenários também foi uma bola dentro.

Ter nos mostrado uma Brasília preconceituosa e com vários muros invisíveis através de uma alegórica estória de western, mostrou uma sensibilidade e inteligência de René que são dignas de aplauso. Jogos de câmeras, cortes de imagem, uma bela fotografia e edição de áudio, colaboram, e muito, para esse tão bom produto final.  

 
'Faroeste Caboclo' um dos melhores nacionais do ano

'Faroeste Caboclo' é excelente e convido você leitor do Outros 300 a ir assisti-lo sem medo de errar. Vale cada centavo do seu ingresso!



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