Cultura
FILME CAPIXABA 'MAR NEGRO' ESTREIA EM VITÓRIA
Filme que completa a trilogia que iniciou com “Mangue Negro” (2008) e que depois foi precedido por “A Noite do Chupacabras” (2011), "Mar Negro", que estreia neste fim de semana nos cinemas de Vitória, promete trazer muito sangue e terror à telona. Saiba mais lendo a matéria completa:
Por Leandro Reis
Pânico no litoral: trash capixaba "Mar Negro" estreia nesta sexta em Vitória
Foram cerca de 200 dias para a fabricação das criaturas e 1500 litros de sangue falso
No início dos anos 1990, o então adolescente Rodrigo Aragão pegou o estojo de maquiagem de sua mãe para alguns experimentos. Os pais ficaram preocupados. “Eles deviam pensar: ‘será que meu filho vai virar um travesti?’”, lembra o próprio.
Hoje, a apreensão ficou para trás. O agora cineasta, que na época tentava imitar ferimentos na pele com a ajuda dos produtos de beleza maternos, conquistou a confiança dos tutores e de cinéfilos ao redor do mundo. O motivo? Uma trilogia de horror ambientada em Guarapari.
Amanhã, “Mar Negro”, última parte da série criada pelo capixaba, estreia em Vitória, no Cine Jardins, às 21h15. Após a exibição, parte do elenco e o diretor conversarão com o público sobre a produção do longa e os meandros do cinema thrash.
O longa, sucessor de “Mangue Negro” (2008) e “A Noite do Chupacabras” (2011), rodou mais de 30 festivais pelo mundo. No Mórbido Fest, maior festival latino-americano de terror, “Mar Negro” divertiu uma plateia de 500 pessoas na exibição. Foi bem aceito, aliás, pelo japonês Hideo Nakata, diretor do clássico “O Chamado”.
Sucesso também na Argentina, no Ventana Sur, o filme ganhou distribuição no México ao ser premiado na “Blood Window”, braço alternativo do festival. “Mar Negro” também angariou aplausos em países como Estados Unidos, Espanha, Holanda e Alemanha. No Brasil, no entanto, foi difícil conseguir distribuição para o circuito comercial.
“É muito mais fácil conseguir que o filme circule no Japão do que aqui. O cinema de gênero brasileiro ainda tem esse bloqueio”, diz Rodrigo. “Você tem que ser reconhecido fora do Brasil para ser levado a sério aqui dentro.”
Antes dos aplausos estrangeiros, o diretor teve que se virar com o baixo orçamento, de R$ 280 mil. Sem patrocínios de editais ou empresas, Rodrigo contou com o alicerce financeiro do produtor Hermann Bidner.
Parcerias
A independência financeira chegou até aos atores. É um filme colaborativo, segundo o capixaba. “Tive que cortar uma sequência num bordel porque não tinha grana para produzir. Aí escrevi pra várias pessoas que conheci em festivais, pedindo pra eles participarem.” No set, reuniram-se apaixonados de Brasil, Nova Zelândia, Costa Rica, México e outros territórios para onde o thrash estende seus braços. Rodrigo garantiu hospedagem, comida e cerveja.
Também responsável pelos efeitos especiais e pela maquiagem – a mãe confirma –, o capixaba comandou cerca de 200 dias para a fabricação das criaturas de “Mar Negro”, ao longo de dois anos de produção e 1500 litros de sangue falso.
O cuidado com os tecidos monstruosos rendeu-lhe uma confusão elogiosa. Certo dia, em uma praia de Guarapari, uma baleia mecânica do filme foi confundida com um animal verdadeiro por fiscais do Ibama. “Foi tão bonito... é o maior feito da minha carreira. Até abracei o cara”, brinca.
A baleia é uma das alegorias utilizadas por Rodrigo para criticar a contínua degradação do meio ambiente. Situado em Perocão, Guarapari, o enredo do filme surge a partir de uma mancha negra que que contamina animais marinhos. O contágio transforma os bichos em monstros que, é claro, atacam e transformam pessoas nos bons e velhos zumbis.
“O filme é capixaba até a alma. Vários personagens falam como as pessoas daqui”, diz. “Mas é aquela velha frase: ‘encanta a sua aldeia, encantará o mundo’. Um dos motivos de ser aceito lá fora é porque é universal.”
A exibição nos cinemas locais, ele diz, será o momento de capixaba reconhecer seu habitat, mas dentro do universo da ficção. “O americano gosta de ver Nova York ir pelos ares com Godzilla, alienígenas... Tento fazer um pouco disso com ‘Mar Negro’. Quero ver os capixabas brincando com aspectos irreais.”
Análise
Filme explode em arco final
Em “Mar Negro”, que completa a trilogia iniciada com “Mangue Negro” (2008) e “A Noite do Chupacabras” (2011), Rodrigo Aragão comprova sua constante evolução. O filme mistura a pegada bem-humorada de “Mangue Negro” com a narrativa mais bem estruturada de “Chupacabras”. Tido por muitos como uma “crítica à poluição”, o filme não se preocupa com militância. A tal mancha que invade a aldeia de pescadores do Perocão não é explicada, e o surpreendente arco final, que envolve magia negra e forças ocultas, dá indícios de que a explicação não é tão lógica. Mesmo que “Mar Negro” não seja tão enxuto quanto “A Noite do Chupacabras”, o filme utiliza boa parte dos 105 minutos de duração para desenvolver a trama, que até se arrasta por algum tempo, mas acaba explodindo em uma das mais divertidas sequências do cinema recente.
Rafael Braz, crítico de cinema de A GAZETA
Estreia de “Mar Negro” e debate com elenco do filme
Quando: amanhã, às 21h15.
Onde: Cine Jardins. Shopping Jardins, Rua Carlos Eduardo Monteiro de Lemos, 262, Jardim da Penha, Vitória.
Ingressos: R$ 14 (inteira).
Classificação: 18 anos.
Informações: (27) 3026-8099.
Retirado integralmente de A Gazeta
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