Primeira obra de ficção de Gabriel García Márquez em dez anos, "Memória de Minhas Putas Tristes" é uma jóia narrativa. Lançado mundialmente em espanhol no final de 2004, o romance já ultrapassa 1 milhão de exemplares vendidos e chega ao Brasil com tradução de Eric Nepomuceno - vencedor do Jabuti 2004 pela tradução de "Viver para Contar".
A história é aparentemente simples. No ano em que completa os seus noventa anos, o autor-narrador destas memórias decide se presentear com uma noite de amor com uma adolescente virgem. E é assim, sem rodeios, que Gabriel García Márquez apresenta a história do velho jornalista que escolhe a luxúria para provar a si mesmo, e ao mundo, que ainda está vivo. 'Memória de Minhas Putas Tristes' desfia as lembranças de vida desse solitário personagem. Apresenta ao leitor as aventuras sexuais deste senhor, que vai viver cerca de cem anos de solidão embotado e embrutecido, escrevendo crônicas e resenhas maçantes para um jornal provinciano, dando aulas de gramática para alunos tão sem horizontes quanto ele, e, acima de tudo, perambulando de bordel em bordel, dormindo com mulheres descartáveis.
É um livro despretensioso? Não é, e nem tem intenção de ser, acachapante como “Crônica de uma Morte Anunciada” e “Cem Anos de Solidão”, bem mais ambiciosos - o primeiro com sua estrutura faulkneriana de pontos de vista múltiplos, o segundo com a intrincada árvore genealógica dos Buendía. Resgata uma das características desses dois romances e também de boa parte da carreira de García Márquez: a concisão. Não há palavra desperdiçada. Essas cento e poucas páginas são o número correto, sem mais nem menos. A concisão aparece também na linguagem econômica, sem perda de beleza nas sentenças. Herança dos tempos de jornalista.
”Memória de Minhas Putas Tristes” pode ser lido como uma fábula, um poema lírico sobre como cada momento pode ser inexorável. Uma obra para se ler em poucas horas, pensar por alguns dias e lembrar por toda a vida.