O CIRCO DE ROBERTO CARLOS
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O CIRCO DE ROBERTO CARLOS


Ontem a noite tivemos mais um especial do Roberto Carlos (o 37º desde 1974) exibido pela TV Globo. Nele o capixaba estabeleceu parcerias inusitadas como com o grupo de personagens 'Empreguetes', com 'Michel Teló', 'Seu Jorge' e outros. Veja a impressão do Outros 300 sobre o especial.

Impossível fugir do mais do mesmo

É complicado inovar em um especial que basicamente conta com o mesmo set list, roteiro, cantor, cenário, público e estética há mais de 30 anos. E é ainda mais complicado quando se trata de um especial de um artista tão cheio de fãs tradicionais como Roberto Carlos. Por isso entende-se as tentativas da direção da TV Globo em buscar novidades para incrementar o que, a rigor, deveria, por tradição, ficar rigorosamente igual.

O cantor Roberto Carlos durante a gravação do tradicional especial de fim de ano para a TV Globo: cenário contou com paisagens características do Rio de Janeiro (Foto: Alexandre Durão/G1)

Daí viu-se a tentativa de estabelecer algumas novidades no especial deste ano. Uma tentativa, extremamente frustada, diga-se de passagem, de deixar Roberto mais popular, mais pop, mais povão, fazendo-o ter parcerias com artistas que não deveriam ter a honra de sua companhia, e muito menos de ouvi-lo interpretando suas escalafobéticas canções.

Roberto... O que fizeram com você?

Roberto Carlos começou o especial na parceria muito chique, tradicional e bacana do grande Erasmo Carlos o que é efetivamente tradição e, por que não, obrigação. Erasmo pela contribuição ao rock nacional também deveria ter especiais todos os anos, uma pena que não tenha. 

Michel Teló cantou 'Meu querido, meu velho, meu amigo', de Roberto Carlos, em homenagem ao pai, além do megahit 'Ai se eu te pego' (Foto: Estevam Avellar/Rede Globo)

Depois de Erasmo o circo dos horrores abriu as portas. O terrível Michel Teló subiu ao palco. À medida de Teló subia ao palco um frio subia em minha espinha proporcionalmente. Uma parceria (até surpreendentemente legal) entre o rei e Teló na bela canção Meu querido, meu velho, meu amigo em que o sertanejo universitário (putz) homenageou seu pai. Foi muito bonito. E deveria ter parado ali. O que se viu depois foi uma das cenas mais constrangedoras da carreira do cachoeirense.

Roberto Carlos e Michel Teló começar a cantar, em duo, a horrível Ai se eu te pego. Não bastando esse momento constrangedor o rei, visivelmente constrangido por estar sendo obrigado àquilo tudo, ainda imitou a ridícula coreografia do paranaense. Pra fechar com chave de ouro a tosca parceria, atrizes da Globo adentraram o palco e Roberto, coitado, quis puxar um forrózinho com uma delas. Meio complicado dançar forró pra quem não sabe e ainda tem uma perna mecânica a tira colo né não?


A coisa foi aumentando em gravidade. Logo depois Roberto teve de interpretar uma cena ao lado do grupo fictício 'Empreguetes'. Aos gritos (elas gritavam assim na novela?) elas disputavam o rei que conseguiu ser um ator pior que o Cauã Reimond! Mas uma vez se estivesse acabado por aí não seria de todo ruim. Mas como a tendência era piorar, o grupo foi ao palco. Ao som de um estranho playback de É meu, é meu, é meu o grupo fez uma esquisita coreografia em que Cláudia Abreu jogou as pernas em Roberto (tava vendo a hora que o velhinho iria cair no palco). Por fim Abreu deu um beijo "totalmente inesperado" (ahã) num, mais uma vez, constrangido Roberto.

Encarnando Chayenne, personagem da novela "Cheias de charme", a atriz Cláudia Abreu dá um beijo na boca de Roberto Carlos no fim da canção 'É meu, é meu, é meu' (Foto: Estevam Avellar/Rede Globo)

Tudo ficou ainda mais estranho quando o rei resolveu cantar alguns de seus sucessos em forma de dance music, isso mesmo, dance music! Não se sabe muito bem porque disso, uma vez que um peixe fora d'água estaria mais a vontade do que nosso conterrâneo naquela maluca invencionice.

Esse cara (chato) sou eu

Depois tudo ficou, pelo menos, menos esquisito. O capixaba cantou a chatíssima Esse cara sou eu e nós tivemos que nos dar com as ridículas imagens do ator Rodrigo Lombardi chorando (chorando por que, aliás?). Mais legal foi ver a Nanda Costa forçando litros pra chorar também, mas não conseguindo. Depois teve o funk (o funk menos funk que já ouvi na vida) Furdúncio que fechou o longo momento Salve Jorge do show. ]


Falando em Jorge, Seu Jorge subiu ao palco para o único momento realmente legal da noite. Ao lado do sambista, Roberto cantou As curvas da estrada de Santos. Seu Jorge mandou bem pra caramba ao lado do rei. O momento foi ímpar! Contudo depois foi a vez de Roberto cantar uma música de Seu Jorge. A rápida e swingada Amiga da minha mulher foi demais para o capixaba. Sem fôlego e sem gingado o dono da noite ficou perdidão no ritmo dinâmico a qual a música é cantada.



Com Arlindo Cruz, Roberto duetou com Meu lugar. Legal foi ver o católico até o último fio de cabelo Roberto Carlos cantar uma música cujo inicio é "O meu lugar, é caminho de Ogum e Iansã..." E mais legal foi ouvir o umbandista Arlindo cantando O homem (alusão a Jesus Cristo) posteriormente. Enfim, coisas de um especial louco e inesquecível, no mau sentido, claro.

Tempo perdido

Além de expor Roberto Carlos a duetos, canções e cenas pra lá de constrangedoras, acredito que fãs, como eu, devem ter ficado chateados com o tempo perdido com tais parcerias. Tempo este que poderia ter sido dedicado às canções do próprio rei e não dedicado a musiquetes de artistas de qualidade menor que tocam no rádio de dez em dez minutos.

Que a TV Globo entenda que o especial do Roberto pode, e deve, ser sempre igual, afinal é anual. Ninguém quer esperar 365 dias para ver o rei cantando funk, dance, ou Ai se eu te pego. Ele não precisa disso - e nem a gente - né?



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