VANGUART: "BOA PARTE DE MIM VAI EMBORA"
Cultura

VANGUART: "BOA PARTE DE MIM VAI EMBORA"



A foto em sépia, desbotada pelo tempo, mostra a fachada da velha casa. À porta, as quatro mulheres fazem guarda. Uma é mais velha, aparentemente a matriarca. As mais novas podem ser irmãs. Ou namoradas, esposas. Como em faroestes, uma delas empunha a espingarda. A imagem da capa de "Boa Parte de Mim Vai Embora" é também o clima sobre o qual o Vanguart desenvolveu seu esperado segundo álbum de inéditas. O grupo de Cuiabá (MT) se radicou em SP após o CD de estreia, de 2007.

Aos poucos, a banda se tornou uma espécie de matriz para bela fatia da nova geração da música brasileira. Trouxe de volta ao cardápio uma estética derivada do folk que, sem demora, resultaria em influência para Mallu Magalhães, Tiê, Thiago Pethit e outros artistas que emergiram no cenário musical brasileiro nos últimos quatro anos. "Não sabia que era o reitor [dessa turma] até me falarem", diz o vocalista Helio Flanders. "Mas nunca vou aceitar esse papel, sou inseguro demais pra isso." Flanders já se cansou de ouvir essa história de "onda folk", "neofolk". Segundo ele, a relação do Vanguart com os artistas da nova cena vem menos do som --ou dos ecos de Bob Dylan que carregam no modo de fazer música-- e mais de "um espírito".

Esse espírito, diz, é "um lugar que a gente frequenta: nas letras, nas imagens, no olhar mais sensível à arte". "Estamos todos atuando na terceira camada do sentimento --seja o Tatá [Aeroplano] sendo direto, seja eu sendo subjetivo, seja a Tiê sendo doce, a Mallu com a inocência, o Romulo [Fróes] sendo cerebral. E também o Pélico, que está chegando perto; a Alzira Espíndola e a Cida Moreira, de outras gerações." Cida é uma das mulheres que guardam a casa na capa do disco. A mãe de todas. Outras são a violonista Fernanda Kostchak, a apresentadora Rafaela Tomasi e a atriz Daniela Dams", enumera.

"Elas representam as mulheres que ficaram. Mas viram seus homens partir. E, agora, têm de cuidar da casa, proteger os filhos. Sozinhas", explica Flanders.
"Eu e o Reginaldo [Lincoln, baixista] convivemos com mulheres que tiveram que se virar sem homens por perto. Nossas próprias mães, inclusive", revela. Somado a isso, os dois passavam, durante a fase de composição, por separações traumáticas das namoradas. Todas essas mulheres acabaram por dar o rumo do álbum. "Despedida e encontro são uma coisa só", diz. "Sempre que há uma perda, há um ganho: experiência, liberdade, qualquer coisa." Dessa vez, ganharam um disco.




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