Cultura
DURANTE, O CAMINHAR*
Todas as coisas já foram ditas.
Mas como ninguém escuta,
É preciso recomeçar.
(André Gide)
Mar, areia, espuma e sal: sonhos que namoram pesadelos, povoam minhas noites de fogo e ferro.
No sagrado esquecer dos meus sonhos, escondo de mim todo o sofrer - enquanto sorrio lamúrias inúteis. Trago, no peito e nos pés, no sangue e por entre ossos, a certeza de tantas incapacidades:
Como lidar com o amanhecer; com os mais afoitos raios do sol da manhã?
Como atender às pequenas ou grandes demandas do amor?
Como tudo falar, quando somente escrever me faz caber no espaço solerte que me separa do outro?
Como avançar com palavras, mãos cheias de pérolas cativas? Qual Bandeirante com batéia de esmeraldas a saltarem como pequenos bagres, piáus, lambaris e traíras - em pescarias de peneira - naquele longínquo rio do curto período de infância no campo?
Como afiançar o número e nome, de todas as exatas cores do arco-íris, apreendidas em estranho dialeto africano que desconheço? Como dizer à amante o quanto lhe quero, se na garganta tantas palavras ainda não recupero?
Chorei ao nascer e, tendo a morte como diária e fiel companheira, não hei de mais chorar ao morrer. Mas, sei quão longo é o caminho de uma à outra ponta.
Neste "durante", cultivo o necessário esmero na busca das melhores palavras; dos mais afoitos e aflitos sons que habitam o infinito - além do mar; do lago mais próximo e do terrível horizonte além.
A felicidade não tem fonte, frente ou dono: cabe-lhe apenas o ônus de a tantos homens iludir.
Quando adormeço, me despeço da vida e me entrego, solene, a outras vidas. É quando visito parentes que mal conheço; quando alivio as dores que me importunam, quando mergulho no emaranhado mundo dos outros.
É quando, escravo das luzes, me vejo adiante das trevas - livre e leve: capaz de caminhar sobre a terra; nadar em profundos oceanos e mares, em riachos e maiores rios de tantas eras proibidas.
Acordo para lembrar um tão pouco do que vivi: um grão das tantas terras que vi, uma folha rota das imensas florestas em que me perdi. Tudo, apenas reflexos dos raios de sóis diversos, dispersos nas
praias da frágil memória (nano)atômica...
*Jairo De Britto
Ilha de Vitória - ES - Brasil
(07.Janeiro.2010)
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