"Ele era ruim e mais facilmente substituível". A consideração do apresentador Jô Soares sobre o ex-beatle Ringo Starr, dita durante entrevista com os integrantes da banda All You Need is Love na última semana, expôs uma vez mais o velho clichê do rock que diz que Ringo seria um músico "meia-boca" e o menos querido entre os quatro rapazes de Liverpool. Não podemos esperar muita coisa, além de clichês, do velho Jô Soares, né gente?
"Essa mania de falar mal do Ringo é coisa que quem só vê qualidade no virtuosismo. Ringo é um baterista excepcional, um metrônomo ambulante. Não existe variação nem falhas de tempo nas músicas dos Beatles. O cara é um relógio", comenta o empresário capixaba Ricardo Martinelli, que também toca bateria numa banda cover dos Beatles. "E digo mais ainda: tem músicas da banda que dificilmente um artista virtuoso conseguiria reproduzir com as mesmas técnica e sentimento do Ringo".
Ringo é conhecido pelo seu estilo seguro de tocar e pelos seus toques de originalidade. Foi eleito, em 2011, pela revista Rolling Stone o maior baterista da história do rock. O apelido Ringo surgiu por causa dos anéis que Ringo gostava de usar (ring quer dizer anel em inglês). Ele também é vegetariano e canhoto, assim como outro integrante dos Beatles, Paul McCartney. Neil Peart, baterista do Rush, é considerado o melhor baterista da atualidade. Ele, fã de Ringo, confirma a importância e influência do beatle no seu trabalho. Aqui no Brasil, outros músicos, como João Barrone e Guto Goffi, também vão elencar a importância de Ringo.
Mesmo com o sucesso da banda, Ringo era considerado por muitos músicos um baterista medíocre. Para se defender usava, com seu humor característico, uma frase sarcástica: "Dizem que não toco muito bem, mas sou o baterista da melhor banda do mundo... logo, sou o maior baterista do mundo!". Mas ele tem muito a seu favor nesse quesito, tendo sido o baterista a popularizar um modo de tocar bateria com igual força em ambas as mãos, em contraposição ao estilo vigente, que deixava a mão esquerda segurando a baqueta como um palito chinês. Ringo também ajudou a melhorar a qualidade das gravações de bateria na época. Como membro dos Beatles, teve importância na elaboração dos arranjos, com batidas simples, mas inconfundíveis.
Uma prova do seu talento é a turnê incrível que ele está fazendo no Brasil.
Show em Minas Gerais
O ex-beatle Ringo Starr emocionou cerca de 7 mil pessoas, que lotaram o Chevrolet Hall, na noite desta quarta-feira em Belo Horizonte. Mas a apresentação de Ringo, pela primeira vez na capital mineira, representou uma data simbólica para um fã em especial. O baterista do Skank, Haroldo Ferretti, acompanhou o show e afirmou que o músico britânico é uma referência para uma geração de artistas. "Não tem jeito de explicar, porque eu sou fã de Beatles, sou fã do Ringo, é um cara genial. Tenho uma bateria igual a dele, uma edição chamada Ringo Starr. É uma banda e é um cara que é uma referencia para mim e para todos os outros", disse.
Segundo o baterista da banda mineira, a apresentação do ex-beatle em Belo Horizonte abre precedentes para que grandes músicos se apresentem na cidade. "Beatle em BH, já imaginou? Eu não. Ainda mais o Ringo, que não aparece constantemente. Acho que agora que veio ele, não há ninguém que não possa vir também, fechou o ano com chave de ouro", afirmou.
Da mesma forma que Ferretti, o público, que esgotou os ingressos e lotou a casa de shows, ficou emocionado com a apresentação de Starr. A banda All Stars Band subiu ao palco com 15 minutos de atraso, que foram completamente ignorados depois da primeira música It Don't Come Easy, de autoria de Ringo. Em seguida o britânico logo ganhou a simpatia dos fãs dizendo que deveria tocar ali todas as noites.
Durante o show, o ex-beatle abre o espaço para os outros componentes da banda. Wally Palmar (guitarra; ex-The Romantics), Edgar Winter (teclado; irmão do guitarrista Johnny Winter), Gary Wright (teclado; ex-Spooky Tooth), Richard Page (baixo; ex-Mr. Mister), Rick Derringer (ex-McCoys), e Gregg Bissonette (bateria, ex-David Lee Roth) mostram diverso repertório e a todo momento exaltam a oportunidade de tocar ao lado de Starr.
O setlist também varia entre algumas músicas da carreira solo de Ringo e outras canções que o consagraram com George Harrison, Paul McCartney e John Lennon na época dos Beatles.
A primeira que empolgou o publico foi "Yellow Submarine" quando Starr vai a frente do palco e toca uma bateria improvisada. O ex-beatle também levantou o público em "I Wanna Be Your Man", "Act Naturally" e "The Other Side of Liverpool". Ao final do show, o baterista leva os fãs a loucura com clássicos "With a little help from my friends" e "Give Peace a Chance".
A turnê de Ringo pelo Brasil, que já passou por Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, segue para Brasília (sexta, 18, no Ginásio Centro de Convenções Ulysses Guimarães) e será encerrada em Recife (domingo, 20, no Chevrolet Hall).