



Fragmentos das Cartas a Teo " Escrevo-lhe um pouco ao acaso o que me vem à pena, ficaria muito contente se de alguma maneira você pudesse ver em mim mais que um vagabundo -
Se continuarmos a amar sinceramente o que na verdade é digno de amor,e não desperdiçarmos nosso amor em coisas insignificantes,nulas e insípidas,obteremos pouco a pouco mais luz e nos tornaremos mais fortes,mais humanos,mais felizes. O que é que sou aos olhos da maioria - uma nulidade ou um homem excêntrico ou desagradável - alguém que não tem uma situação na sociedade ou que não terá;enfim,pouco menos que nada...então eu gostaria de mostrar por minha obra o que existe no coração de tal excêntrico,de tal nulidade... Ainda que frequentemente eu esteja na miséria,há contudo em mim harmonia e uma música calma e pura. O sentimento e o amor pela Natureza encontram cedo ou tarde um eco naqueles que se interessam pela arte. Eu sinto que há coisas de cor que surgem em mim enquanto pinto,coisas que eu não possuia antes,coisas importantes e intensas. Sinto em mim a força de produzir,tenho consciência de que chegará um tempo em que poderei,por assim dizer,cotidianamente fazer uma ou outra coisa boa,e isto,regularmente. - Estou possuido pelos novos prazeres que sinto nas coisas que vejo, uma nova esperança de fazer algo que tenha alma. -
Tudo aqui é belo,aonde quer que eu vá Tudo aqui é perfeitamente belo,como eu gosto. Quero dizer que aqui é a paz. Não é fácil encontrar no verão um efeito de sol que seja rico,tão simples e tão agradável de ver quanto os efeitos característicos das outras estações. - Na Primavera hà o trigo novo verde tênue e as macieiras rosas em flor. - No Outono há o contraste das folhas amarelas com os tons violetas. - No inverno há a neve e os pequenos personagens negros. Estou num furor de trabalho,já que as árvores estão em flor e eu gostaria de fazer um pomar da Provence de uma alegria monstruosa. Estou de novo em pleno trabalho,sempre, como pomares em flor Me falta uma noite estrelada com ciprestes ou talvez sobre um campo o trigo maduro. O pessegueiro rosa é o que me dá mais trabalho. são milhares de florzinhas a brotar das minhas mãos... Quero agora absolutamente pintar um céu estrelado. Frequentemente me parece que a noite é ainda mais ricamente colorida que o dia,colorida de violetas, de azuis e os mais intensos verdes. Quero evocar o brilho misterioso de uma pálida estrela no infinito, os laranjas fulgurantes como o ferro abrasado,daí os tons de ouro velho luminoso em meio às trevas. A grande revolução: a arte aos artistas,meu Deus,talvez seja uma utopia e então tanto pior. Sei que não devemos desanimar só porque a utopia não se realiza. Acho que a vida é tão curta e passa tão rápido;ora,sendo pintor é preciso portanto pintar. Fazer estudos,no meu entender,é semear e fazer quadros, é colher. Não devemos nos poupar. Se durante algum tempo estamos esgotados, depois nos restabelecemos,e ganhamos com o faro de os estudos estarem armazenados,exatamente como o trigo ou o feno do camponês.Quanto a mim,não penso provisoriamente em descansar. A loucura é salutar por isto,porque nos tornamos talvez menos exclusivos... O trabalho me distrai infinitamente mais que qualquer outra coisa e se por uma vez eu pudesse nele me lançar com toda minha energia, este seria possivelmente o melhor remédio.
Não esqueçamos que as pequenas emoções são os grandes timoreiros de nossas vidas,e que as obedecemos sem saber. Em todo caso procurar permanecer verdadeiro talvez seja um remédio para combater a doença que continua fomentando em nossa mente. Quando você prestar atenção,verá que certas estrelas são cor de limão,outras têm brilho cor-de-rosa,verdes, azuis miosotes Sou este ser sem sorriso,mas de cujo olhar partem vibrações coloridas que me envolvem,criando um mundo onde elas - cores,vibrações - substituem a luz e a matéria. O que é o mundo? O que é o mundo? - Cores,cores lindas que vibram. E eu,quem sou? - O autor desse mundo! 


