Renata Bomfim nasceu em Vitória/ES em 1972. Artista plástica formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), especializou-se em psicologia analítica junguiana, psicossomática e arteterapia. Desde 1999 dedica-se ao viés da arte na saúde mental desenvolvendo projetos terapêuticos em instituições públicas e privadas. A poeta é mestre em letras pela Ufes e, atualmente, pesquisa a poesia hispanoamericana no doutorado pela mesma instituição. Ocupante da cadeira de nº16 na AFESL, Renata Bomfim é educadora socioambiental no Mosteiro Zen Morro da Vargem e dedica grande parte do seu tempo à educação humanitária na luta pelo bem-estar animal. A poetisa possui artigos publicados no Brasil e no exterior e desde 2007 mantém o blog literário Letra e Fel (www.letraefel.com). Obras publicadas: Mina (2010) e Arcano Dezenove (2011). Confira, abaixo, o poema “Fantasmas da esperança”:
Deixemos Deus sossegado
e colhamos as vinhas da nossa ira.
Soem trombetas
Acordem liras
Pois não existe céu além deste que
conhecemos e poluímos.
Homens, até quando
a terra será encharcada
com o sangue dos teus irmãos?
Até quando morrerão índios,
negros, mulheres, crianças,
bastardos e desempregados,
e uma leva de outros seres subalternizados?
Por que não conseguimos enxergar
que o rosto desfigurado
do homem e da mulher
sem nome, sem casa e com fome
é o meu e o seu rosto, é o nosso rosto?
Porque não aceitamos que
esse homem e essa mulher são, também,
a flor que arrancamos,
o animal que assassinamos
as árvores que deixamos cair...
Até quando o ferro e o fogo
calarão vozes mais esclarecidas?
E no lugar das árvores
sejam plantadas as sombras
dessas existências perdidas?
Morreu Paulo Cesar Vinha,
Chico Mendes, Maria do Espírito Santo
Dorothy, irmã querida,
morreu José Cláudio Ribeiro da Silva,
defendendo as castanheiras
e a nossa humanidade.
Tantos outros também partiram
traídos pelos seus.
Exército de vencidos
que se levantará um dia
ainda mais forte, pois,
existem coisas que não se pode matar:
a Fé, a Esperança, a Revolta, a Justiça!
Esta é a hora de nos inspirarmos
nos fantasmas da esperança, para que
as gerações futuras possam descansar, ter
ar, água, lugar de existência.
Nós nos perdemos no labirinto
da modernidade ourobórica,
construída com armas tecnológicas.
Não temos, mas, ainda buscamos,
por alguém ou por algo que nos salve
de nós mesmos.