ENTREVISTA COM A ARTISTA RENATA BOMFIM
Cultura

ENTREVISTA COM A ARTISTA RENATA BOMFIM


Renata Bomfim nasceu em Vitória/ES em 1972. Artista plástica formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), especializou-se em psicologia analítica junguiana, psicossomática e arteterapia. Desde 1999 dedica-se ao viés da arte na saúde mental desenvolvendo projetos terapêuticos em instituições públicas e privadas. A poeta é mestre em letras pela Ufes e, atualmente, pesquisa a poesia hispanoamericana no doutorado pela mesma instituição. Ocupante da cadeira de nº16 na AFESL, Renata Bomfim é educadora socioambiental no Mosteiro Zen Morro da Vargem e dedica grande parte do seu tempo à educação humanitária na luta pelo bem-estar animal. A poetisa possui artigos publicados no Brasil e no exterior e desde 2007 mantém o blog literário Letra e Fel (www.letraefel.com). Obras publicadas: Mina (2010) e Arcano Dezenove (2011). Confira, abaixo, a entrevista com a escritora:

1 – Olá, Renata. Você é artista plástica formada pela UFES, especializou-se em psicologia analítica junguiana, psicossomática e arteterapia, e também é educadora socioambiental, mas conte-nos, como se deu o seu primeiro contato com a arte literária. Como se deu a aptidão?

Resposta: Olá! É um prazer conversar com os leitores do “Outros 300”. Minha trajetória profissional é transdisciplinar e acredito que, toda ela, me levou para o caminho da poesia. A escrita poética sempre foi uma forma pela qual expressei com maior facilidade os meus afetos e visão de mundo, eu escrevo poemas desde a adolescência, porém, nunca os mostrava a ninguém, os escondia, cheguei a rasgar e a queimar muitos poemas. Sempre senti que quem lesse meus escritos teriam acesso a minha intimidade e a coisas muito particulares, que naquele tempo eu não estava pronta para compartilhar. Foi em 2007 que comecei a publicar poemas em antologias e criei o blog literário Letra e fel. Em 2010, lancei o meu primeiro poemário, o “Mina”, e em 2011, o “Arcano Dezenove”. O meu terceiro livro está no prelo, chama-se “Colóquio das árvores” e pretendo lançá-lo no primeiro semestre de 2013.

2 – Como leitora e escritora, qual foram suas maiores influências?

Resposta: Eu sou uma leitora voraz, leio de tudo, até bula de remédio. Minha formação exigiu leituras no campo da psicologia, das artes plásticas, li praticamente toda obra de Carl Gustav Jung, li Freud, li Lacan e a obra da Drª Nise da Silveira. No campo literário, não me atenho à leitura de poemas, leio também romances, prosa, contos, e gosto muito de livros de teoria literária, Nos meus poemas, podem ser escutados ecos da poesia de Florbela Espanca, Camões, Fernando Pessoa, Antônio Nobre, Rubén Darío, Hilda Hilst, Ester Abreu Vieira de Oliveira, Maria Lúcia Dal Farra, Cecília Meireles, Sylvia Plath, entre outros escritores.

3 – Recentemente, você participou de um evento literário na Nicarágua. Como foi ser convidada pela Embaixada Brasileira para ministrar uma palestra no “VIII Festival de Poesia de Granada”?

Resposta: Pesquisando a obra de Florbela Espanca no mestrado de letras da UFES, eu descobri uma interlocução pouco estudada entre Florbela e o poeta nicaragüense Rubén Darío, considerado o pai do modernismo hispano-americano. Em 2010, eu passei a estudar a interlocução entre esses dois autores, porém, a escassez de livros sobre a obra de Rubén Darío impedia que eu fizesse leituras mais arrojadas, havia lacunas sobre a sua vida e a sua obra que eu buscava responder, assim, eu já tinha em mente uma viagem para a Nicarágua para fazer pesquisas. Em 2010, eu soube da existência desse Festival de poesia e assim, busquei reunir a necessidade e o desejo, e parti rumo à Nicarágua. A internet é uma ferramenta de trabalho que, muitas vezes, supera as expectativas. Enviei e-mails à comissão organizadora do evento, explicando os objetivos da minha viagem e fui muito bem acolhida e tratada. Da mesma forma, ao saber de minha viagem à Nicarágua a Embaixada do Brasil na Nicarágua me convidou para fazer uma palestra falando da minha pesquisa e da minha obra poética.



4 – Sua participação neste evento muito nos orgulha e suscita uma dúvida, como foi a recepção do povo da Nicarágua? Conte-nos acerca deste grande festival.

Resposta: O povo nicaragüense ama o Brasil e os brasileiros, bem como tem muito interesse na cultura do nosso país, assim que sabiam que eu era brasileira logo abriam um sorriso. Os poetas nicaragüenses, bem como de outros países da América Latina apreciam a literatura brasileira, percebi que o escritor Machado de Assis é bastante conhecido, bem como Jorge Amado. Fui tratada de forma respeitosa e a organização do evento me inseriu na programação, dessa forma eu puder ler meus poemas para o público e participar da programação que foi bastante variada, como por exemplo, dois wokshops oferecidos pelas Embaixadas dos Estados Unidos e da Espanha. O Festival Internacional de Poesia de Granada busca reunir poetas de todo o mundo, esse ano ele completou a sua oitava edição. É um evento que promove shows e recitais durante todo o dia e mobiliza todo o país. Esse Festival é muito prestigiado pelo povo nicaragüense e a cada ano uma personalidade literária do país é homenageada, Em 2012, o Festival homenageou o poeta Carlos Martinez Rivas, em 2013 homenageará o poeta Ernesto Cardenal e, em 2014, Rubén Darío, que é considerado um dos maiores ícones da Nicarágua.


5 – Falando nisto, mate-nos algumas curiosidades. Você teve oportunidade de conhecer escritores do mundo todo? Pode passear pelo lugar?

Resposta: Sim, conheci poetas da Espanha, do Egito, Índia, México, Itália, a poeta brasileira Viviane de Santana Paulo, entre outros. O meu interesse acerca da literatura nicaragüense me aproximou de vários poetas do país como Francisco Javier Bautista Lara, Lígia L. Guerrero, Luis Iglesias, Jose Domingos Moreno Castillo, Juan Zeledon, Raul Xavier Garcia (poeta carpinteiro), entre outros e agora estamos mantendo contato por internet, buscando ampliar o diálogo no campo da poesia e da pesquisa. Aproveitei a oportunidade para conhecer lugares turísticos da Nicarágua como as ilhas do lago Cosibolca, o vulcão Massaya, fui também a cidades como León e Cidade Darío, e a um pequeno vilarejo para conhecer o processo de fabricação da cerâmica, curti também os shows folclóricos promovidos pelo Festival.

6 – Você é ocupante da cadeira de nº16 na AFESL e publicou os livros “Mina” (2010) e “Arcano Dezenove” (2011). Fale-nos acerca destas duas obras.

Resposta: Meu primeiro livro de poemas, “Mina”, é fruto de variadas experimentações. Nessa obra, peregrino pelo universo feminino desvelando a faceta de mulheres que, muitas vezes, pensam diferente de mim. Nessa obra, trabalho poeticamente outros temas como a questão ambiental e a questão do bem-estar animal. O livro “Mina” foi custeado pela Lei de Incentivo Chico Prego, do Município da Serra. Em 2011, eu lancei o “Arcano Dezenove”, por meio desta obra vieram à tona outras inquietações como, por exemplo, a questão religiosa. Considero este livro um canto de amor e esperança, ele denuncia a hipocrisia de uma sociedade consumista e alienada e anuncia a chegada de uma era, quando as monoculturas que dizimam as florestas do mundo deixarão de existir e o homem passará a cultivar o bem-dizer, a poesia.



7 - Como se dá seu processo criativo? Mais inspiração ou mais expiração?

Resposta: Com certeza muita transpiração. Eu acredito na inspiração, já senti algumas vezes que fui tocada pela musa e o poema emerge, não sei bem de onde, praticamente pronto. Porém, na maioria das vezes, tudo surge com uma idéia, uma inquietação, um sonho, uma leitura, enfim, algum estímulo que me leva a escrever, então tem inicio um processo, às vezes penoso, de buscar a palavra certa, e o dilema de encontrar a forma e o ritmo, Quando escrevo, na maioria das vezes, penso no leitor, alguns poemas são confissões feitas ao pé do ouvido, sussurros, destinados àqueles que eu sei que me entenderão, concordando ou não com o que digo.


8 – Você também mantém o blog literário “Letra e Fel” (www.letraefel.com). Fala-nos acerca desta página.

Resposta: O “Letra e fel” nasceu em janeiro de 2007. O nome foi uma resposta a algo que ouvi de uma pessoa, não me lembro quem, que me disse: “Renata, você é uma pessoa tão boa, um doce!”. Imediatamente eu respondi a ela que eu não era assim, que dentro de mim existiam alguns demônios e muito fel, mas que eu buscava acercar-me, cada vez mais, de Jesus, o Cristo. Em 2008, eu tive contato com o Cristo Cósmico, após peregrinar por variadas religiões, tive o entendimento profundo do amor de Deus expresso em cada flor, na água, nos animais, nas crianças. Esse encontro levou-me a questionar uma série de coisas na minha vida e confirmou o meu compromisso como poeta, como artista plástica e como pessoa. Eu já não comia carne há alguns anos e esta escolha tomou um novo sentido, uma nova dimensão na minha vida. Passei a dedicar-me a causa ambiental e a luta pelo bem-estar animal, hoje milito em prol do abolicionismo animal e do vegetarianismo. Acredito que quando reconhecermos o direito do animal à vida, bem como a centelha divina que o habita, mudará a relação que temos com os seres da nossa própria espécie, só ai encontraremos a paz tão almejada. O “Letra e fel” é, por excelência, o lugar onde posso divulgar as causas nas quais acredito, divulgar nele os meus poemas, e é um lugar para acolher a escrita dos poetas e de quem mais solicitar, desde que a sua escrita esteja implicada em contribuir, de alguma forma, para o bem comum.

9 – Hoje, você é mestre e doutoranda em literatura. Quais são seus projetos literários? O que podemos esperar para o futuro?

Resposta: Agora, dedico-me à conclusão da minha pesquisa de doutorado, tenho me empenhado em buscar fontes atualizadas e pretendo, posteriormente, publicar esta pesquisa. Desejo, mais para frente, transformar o “Letra e Fe”l em uma revista literária e publicar, no próximo ano, o “Colóquio das árvores”, meu terceiro livro. Sonho viajar mais, fazer novos amigos, divulgar minha poesia, e estar sempre inventando algo novo e que me mantenha em movimento.



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