Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritos simbolistas. Sua poética tem temática variada: poemas sociais, românticos, entre outros. “Um homem na sombra” aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Confira, abaixo, a entrevista com o poeta:
1 - Na orelha de seu primeiro livro – Um homem na sombra –, Leonardo Lúcio afirma que você é um poeta que preza pela simplicidade, o que pode ser observado nos versos livres e concisos que predominam em grande parte da obra. Fale um pouco sobre essa característica de sua poética.
Resposta: Isso que o Leonardo observou é verdade. O meu trabalho teve como opção a simplicidade, porque os poemas tendem a ter uma voz atual, do século XXI, que expressa a rapidez, o instantâneo, com versos curtos e temas que perpassam a nossa sociedade. O título está relacionado a algo mais pessoal entre eu e a obra, pois o livro, por ter essa simplicidade, já traz no título certa introspecção pessoal, que é passada para a obra. “Um homem na sombra” é uma reunião de poemas escritos ao longo de anos, como geralmente ocorre com todo primeiro livro, e, por isso, não tem um tema central, cada poema fala sobre algo diferente. A característica central mais evidente é essa simplicidade introspectiva.
2 - Então, você iniciou sua produção literária há alguns anos. Quando você começou a escrever?
Resposta: Eu escrevo há dez anos. Comecei aos treze anos de idade. Os primeiros poemas que escrevi não são muito elaborados, como ocorre com qualquer poeta em início de produção. O tempo e o passar dos anos vão dando-nos mais maturidade poética e de vida para escrever de forma mais apurada ou até mesmo encontrar uma estética própria. Por isso, se eu for lançar um livro hoje, ele não será como o que eu lancei em 2008, porque eu não sou mais o mesmo escritor, então será totalmente diferente. Podemos ver isso na obra de Carlos Drummond ou de Cabral, por exemplo, que ao longo do tempo foram desenvolvendo e elaborando com mais rigor suas poéticas.
3 - Falando sobre a poética de Drummond, em um de seus poemas, você estabelece uma relação intertextual com o poema drummondiano “José”. Drummond é um poeta que influenciou ou que influencia sua escrita? Fale um pouco sobre a relação de seus poemas com a obra desse autor.
Resposta: Eu acho que tudo que nós lemos nos influencia de certa forma. Drummond fez e faz parte da minha formação de leitor, foi com ele que eu comecei a ler poesias, foi com ele que me iniciei nesse mundo. Após Drummond é claro que surgiram outros poetas com os quais eu também me identifico, como Cabral, Bandeira, Hilst e Gullar. Drummond me influenciou e vai me influenciar sempre, assim como os autores que eu leio e que me fazem pensar em coisas nas quais eu nunca tinha pensado antes.
4 - Além da influência literária, há outras artes que influenciam sua escrita?
Resposta: A literatura, de uma forma geral, é influenciada por outras artes, a maioria de poetas é influenciada pela pintura, pelo cinema ou pela música, por cantigas populares, como Manuel Bandeira, por exemplo. No meu livro, o poema “Os retirantes” foi escrito a partir de uma fruição da tela de Cândido Portinari.
5 - Você se formou em Letras-Português pela Ufes. Esse seu gosto pela literatura e pela arte, de forma geral, teve alguma relação com a escolha de sua profissão?
Resposta: Sim, foi por gostar de literatura, de ler e de produzir, que eu optei pelo curso de Letras. Nesse aspecto, o curso foi bom, porque eu adquiri um olhar mais crítico acerca de minha produção e da produção de outros autores.
6 - E sua produção literária atualmente ainda é voltada para a poesia?
Resposta: Eu continuo escrevendo poesia, mas estou dividindo o espaço com crônicas e contos também. Escrevo semanalmente no meu blog de crônicas chamado “Pierrô Crônico”. As crônicas me dão a possibilidade de desenvolver um lado mais irônico da minha escrita, que eu não explorava muito anteriormente.
7 - Quais são os processos de criação que você utiliza nesses dois gêneros literários?
Resposta: A poesia tem certa ligação com a própria palavra, com o som e o ritmo. Não é tão necessário estar atualizado acerca dos acontecimentos do mundo, como é necessário no caso de se escrever uma crônica. A crônica, por ser mais narrativa e argumentativa, está relativamente presa no instante da escrita, por isso algumas se tornam desatualizadas, embora haja aquelas que continuam atuais a todo o momento.
8 - “Um homem na sombra” foi patrocinado por uma lei de incentivo cultural. Como você avalia o cenário cultural capixaba no que diz respeito ao fazer artístico, à produção de arte? No seu ponto de vista, quais são as dificuldades atuais encontradas? Como foi o seu processo para a busca desse incentivo?
Resposta: No cenário cultural capixaba há muitas pessoas produzindo em todas as áreas do fazer artístico, produzindo coisas boas. O único problema está na hora de apresentar o trabalho para o público. Uma pequena parte do processo já foi resolvida com as leis de incentivo cultural, que patrocinam a produção ou o evento, fazendo com que os atores, cantores, escritores, etc. levem ao público a sua arte. Entretanto, a publicidade tem curta duração, as obras só são divulgadas no ano de publicação e no outro ano já são esquecidas. Até para colocar a obra em venda há dificuldades, às vezes as livrarias ou os sebos não aceitam, por exemplo, há entraves, pois não existe muita procura. No meu caso, meus amigos que são escritores me informaram sobre as leis e me incentivaram a procurar esse patrocínio. Eu busquei durante dois anos incentivo para a publicação, e consegui no segundo, publiquei o livro em 2008.
9 - Você publicou um livro de poemas e atualmente escreve crônicas em seu blog. Quais são seus planos, com relação à escrita, para o futuro?
Resposta: No presente, pretendo continuar publicando no blog. Preciso de tranquilidade e calma para escrever. Tenho alguns projetos em andamento, outros estão parados, como um livro de poesias eróticas que pretendo publicar.