CRÍTICA - CHEGOU A VEZ DO RAP RACIONAL?
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CRÍTICA - CHEGOU A VEZ DO RAP RACIONAL?


Rael da Rima é uma das novidades do rap nacional que merecem atenção
Rael da Rima é uma das novidades do rap nacional que merecem atenção 

Sempre cíclica, a música brasileira volta e meia resgata estilos e gêneros musicais esquecidos e vira seus holofotes para eles novamente. Com o rap, a história não foi diferente. Apesar de já ter sido esboçada nos anos 1970 e até mesmo antes, foi no final da década de 1980 que a união de ritmo e poesia ganhou o país. Após um tempo no limbo, retornou com força nos últimos anos. Prova disso é a lista dos indicados do Vídeo Music Awards deste ano, da MTV Brasil. Emicida, Criolo, Cone Crew Diretoria, Rael da Rima, e outros, lideram boa parta das categorias.

Quando chegou ao país, até pelo ineditismo do que aquilo representava, boa parte do rap que era produzido aqui se limitava a copiar a música e a ideologia do que era feito no Estados Unidos. O clima urbano das canções fez com que o estilo encontrasse em São Paulo, a maior cidade do país, sua principal casa. Dessa primeira safra, nomes como Thaíde e Racionais MCs continuam tendo relevância. 

O movimento também começou a se espalhar por outras regiões e a encontrar influências diversas como o rock (Pavilhão 9, Planet Hemp) e o samba (Marcelo D2), o que ajudou a popularizar o estilo para o que vinha a seguir: sua primeira explosão nacional. No final da década de 1990, os Racionais MCs conquistaram todo o país, sem restrições geográficas ou sociais, com o disco "Sobrevivendo no Inferno" (1997). Foram mais de 1,5 milhões de cópias vendidas – sempre com a banda permanecendo independente – e muitas premiações.

Quando os Racionais saíram da mídia (até um pouco por opção), o rap acabou deixado em stand-by, com alguns bons nomes aparecendo – MV BIll, Sabotage, Black Alien e Rappin’Hood, por exemplo -, mas sem grande relevância comercial.

Representantes de diferentes gerações, Emicida e Criolo colocaram o rap de volta na grande mídia de forma independente
Representantes de diferentes gerações, Emicida e Criolo colocaram o rap de volta na grande mídia de forma independente

O novo mercado

Há cerca de três anos, no entanto, essa nova safra surgiu e recolocou o rap no mainstream da música nacional. Lideradas pelos paulistas Emicida e Criolo, essa nova galera percebeu que não precisava mais ser refém de gravadoras e fórmulas de mercado pré-estabelecidas. "Agora somos nós que fazemos o mainstream", afirma o produtor musical Léo Grijó, que, ao lado do DJ LX, forma uma das mais respeitadas equipes de concepção musical do rap brasileiro.

Léo é capixaba e acabou em São Paulo quando sua ex-banda, Salvação, foi tentar a sorte na capital paulista. Lá ele se especializou em produção musical e hoje até dá aula no primeiro curso de produção voltado para o hip-hop. "A procura do curso triplicou nos últimos anos, assim como a procura pelo nosso trabalho. Hoje nos damos ao luxo de escolher com quem trabalhar", explica o produtor, que atualmente trabalha ao lado de Flora Mattos e Terra Preta, duas das atuais promessas dessa nova safra. 

"Antes o mercado via o rap como um todo e padronizava o que era vendido, sem nenhum conhecimento de causa", lembra Léo. Hoje, principalmente após a ascensão do Emicida e sua ideologia ‘do it yourself’ (faça você mesmo), com ênfase na distribuição gratuita de conteúdo e utilização das redes sociais para divulgação, o mercado se transformou e permitiu que o público escolha o que quer ouvir. 

Léo acredita que esse "boom" no rap se deu muito em função do "abrasileiramento" do estilo, antes preso à visão americana. Segundo ele, os rappers brasileiros perceberam que não basta colocar uma batida e algumas rimas; tem que ter algo a mais. O próprio Criolo é, para ele, um exemplo disso. Ao contrário do Emicida, Criolo já batalha por um lugar ao sol há tempos, mas foi só nos últimos anos, quando abriu sua cabeça para outras influências musicais no disco "Nó na Orelha", que o rapper conquistou a grande mídia e o público.

Além de seus pupilos, Junior Dread e os já citados Flora Mattos e Terra Preta, o produtor acredita que Rael da Rima tem tudo para ser o próximo nome a dar certo. "Acho que ele tem potencial para fazer na música brasileira o que o Tony Garrido não conseguiu", pontua Léo.

Trabalhando ao lado do parceiro Emicida, Rael, por sua vez, faz questão de lembrar que, mesmo que o Racionais tenha saído da mídia, bons músicos surgiram nessa entressafra. Nomes como Marechal e Kamau, por exemplo, ajudaram a consolidar o terreno para a abertura de mercado que chegou hoje.

Indicado à categoria de "Aposta" no prêmio da MTV, Rael diz que tem visto pessoas que acompanham sua carreira há mais tempo questionar o termo, afinal são mais de 10 anos de estrada. "Não me incomoda. Talvez eu seja uma aposta mesmo para quem começou a se interessar por rap agora. O mais importante é que caminhamos todos na mesma direção; é ver o espaço que o rap como um todo vai ter no VMB. Emicida, Criolo, Ogi, Projota, Rashid, Cone Crew (Diretoria)... Algo impensável há, sei lá, 3 anos, não?".

Agora que o rap reconquistou seu espaço, Rael torce para que ele não volte para o limbo. "Não sei se é cíclico, mas espero que os expoentes do rap, inclusive eu, sejam respeitados como músicos, que é o que nós somo".

O primeiro disco solo de Rael, "MP3 – Música Popular do Terceiro Mundo" (2010), é considerado um dos melhores discos do rap nacional recente. A mistura de rap, reggae e samba é capaz de agradar tanto aos fãs antigos quanto àqueles que embaracaram na "barca rap" nos últimos anos. O novo disco, com previsão para lançamento este ano, terá produção da dupla norte-americana K-Salaam & Beatnick, que já trabalhou com Emicida.

O disco, ainda sem título, será lançado pelo selo Laboratório Fantasma, capitaneado por Emicida. Em recente entrevista à revista "Bravo", o rapper revelou estar interessado em aproveitar o momento do rap e assumir uma função mais de empresário. A produtora se transformou em um selo e lançará, além de Rael, o grupo Mão de Oito e o rapper Ogi. "Trabalhar desse outro lado da música vai ser uma experiência nova e um desafio que está me animando muito".

Rappers de importância histórica:

Pioneiros


Thaíde e DJ Hum foram um dos primeiros a ter destaque nacional com a coletânea "Hip-Hop: Cultura de Rua", lançada em 1988. Thaíde hoje é ator e apresentador de TV e o DJ Hum ainda faz shows.

Sucesso

Foram os Racionais MCs os responsáveis pela consolidação do rap no Brasil. Após um tempo de reclusão, o grupo prepara novo disco.

Mistura

Com apenas dois discos, Rappin’Hood merece destaque por ter sido um dos primeiros a misturar o rap com o samba de raiz.

Carioca

Por mais que o estilo se concentre em São Paulo, os rappers do Rio de Janeiro também têm sua importância. MV Bill foi um dos primeiros a se destacar, mas ainda havia pouco da malandragem carioca em suas músicas. Quando o Planet Hemp e Marcelo D2 passaram a investir mais no rap, o gênero ganhou novos contornos na cidade.




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