ENTREVISTA COM A ESCRITORA SONIA RITA SANCIO LÓRA
Cultura

ENTREVISTA COM A ESCRITORA SONIA RITA SANCIO LÓRA



Sonia Rita Sancio Lóra (Sunny Lóra) ama as letras; tanto as que ela mesma rabisca e todas as outras de tantos escritores, todos os dias de sua vida. Teresense apaixonada por sua terra, Sonia mora em Vitória, tem dois filhos e uma neta. Sempre que pode corre para Santa Teresa, para abraçar sua mãe e os irmãos Nega, Tica, Toni e Paulo, muito unidos e amados. Faz parte da AFESL – Academia Feminina Espírito Santense de Letras, através da cadeira número 40, do Conselho Municipal de Cultura e do Instituto Histórico e Geográfico do ES. Colabora para a Seção “Pra Viver, Poesia”, do Diário Oficial do ES, desde 2005 e tem apresentado várias crônicas no Caderno “Pensar” de A Gazeta. Seus livros são “Portais da Alma” – 2005; “Lua Perfeita” – 2008; “Delicatta”, 2008 e “Contos de Saudade”, 2010, este em parceria com sua irmã Nega, a Maria Cecilia. Tem participação em oito Antologias. Seu site é www.sonialora.art.br e seu blog é www.amordepoeira.com. Confira, abaixo, a a entrevista com a escritora”:

1 – Sônia, como as artes entraram em sua vida? Houve algum momento capital em que você decidiu ser uma produtora de cultura ou as coisas foram acontecendo gradualmente?

Resposta: Eu não tinha habilidades manuais, como as minhas amigas. Nunca aprendi a cozinhar, bordar, tocar piano, dançar, representar. Entretanto, o sótão da nossa casa era repleto de caixinhas com fotografias recortadas de revistas. Flores, rostos, artigos, citações. Como era uma menina ainda, sabia que um dia a área de Literatura seria primordial na minha vida. Quando entrei para o segundo grau, já escrevia para o jornal da minha cidade, “A Voz”.

2 – A escrita (ou a leitura, no caso) foram suas primeiras paixões ou outros meios de arte a fascinaram primeiramente?

Resposta: Brincar com as letras sempre foi a minha grande paixão. Eu tinha dois caminhos para ler os livros: a casa de nossos vizinhos, Arlete e Victor Biasutti, que deixavam que eu me sentasse no quarto de costura e lesse todos os livros disponíveis. Li todos, de Contos de Fadas a Bíblia Sagrada, de Poesia a Crônicas. De autores estrangeiros aos mais simples, os cordéis, as trovas, tudo. O cinema era a minha segunda paixão. Atualmente, tantos anos depois, tenho três companheiros inseparáveis: Livros, Cinema e Fotografia.

3 – O que você lia quando jovem? Como foi construída sua bagagem literária?

Resposta: Meu tio Ivan foi morar fora do estado e montou uma pequena biblioteca para mim. Mandou fazer uma estante e enviava os livros pelo Correio. Minha vida era na porta dos Correios, esperando ansiosa pelos livros, que agora eram meus. Machado de Assis, Olavo Bilac, J.Cronin, Ernest Hemingway e uma revista, importante e para mim, a mais perfeita que já existiu - a “Realidade”.

4 – Você se recorda em qual foi à primeira coisa que você escreveu (artisticamente)? Foi sobre o que? Qual foi a emoção de se sentir uma produtora artística pela primeira vez?

Resposta: Claro que sim! Na escola, eu era uma espécie de “jornalista”. A Madre Superiora notou a minha paixão pelas letras e eu era responsável pela edição do Jornal Mural, dos artigos sobre as nossas viagens e atividades escolares, através do Jornal “A Voz”. Eu amava ir à Gráfica, em frente à nossa casa e ver as máquinas produzindo papel com letras. Ficava quietinha, fascinada!

5 – Qual foi seu primeiro trabalho, digamos, profissional, escrito? Você baseou-se em que?

Resposta: Meu primeiro trabalho editado foi um livro de 100 poemas de amor. “Portais da Alma”, de 2005, com o apoio da Arcelor Mittal, foi uma explosão de tudo que havia guardado no meu coração por anos a fio. Fico emocionada ao falar sobre este livro.

6 – Aliás, conte-nos um pouco sobre seus trabalhos profissionais. Onde podemos encontrá-los?

Resposta: Os livros – “Portais da Alma”, GSA Editora, 2005; “Lua Perfeita”, GSA Editora, 2008 (nunca foi lançado); “Contos de Saudade”, Editora A1, 2010. O primeiro e o último não estão mais disponíveis; estão com edição esgotada e eu não tenho condições financeiras para arcar com outras. “Lua Perfeita” foi um passeio que fiz dentro de mim e que tanto me emocionou que não fiz o seu lançamento. “Contos de Saudade” foi escrito a quatro mãos, com minha irmã Maria Cecília, que também é escritora. Durante dois anos, escrevemos contos de personagens de nossa terra e o livro tornou-se uma lembrança para sempre. Grande parte do meu trabalho eu deixo disponível no meu site, www.sonialora.art.br. Participei de várias Antologias da Academia Feminina ES de Letras e de duas edições de “Escritos de Vitória”, do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Tenho participação num site norte-americano, o Coffeedrome. Do “Cá estamos Nós”, do Portal CEN, de Portugal, participei da Edição de 2009. Sou membro de “Poetas Del Mundo” e AVSPE, com muitas publicações. Colaboro para o Diário Oficial do ES desde 2005, na Seção “Pra viver, Poesia” e tenho várias crônicas publicadas no Caderno “Pensar” de A Gazeta.

7 – Você escreve conto, crônica, poesia, prosa... Como consegue passear por todos os estilos com tamanha maestria? Qual é o segredo?

Resposta: O segredo é perseverar e acreditar no que escrevo, sem me importar com críticas. Com uma sensibilidade enorme, consigo visualizar situações que passam despercebidas pelas pessoas. Não sei fazer soneto, nem trovas, nem haicais. Gosto de deixar fluir e, ao final, sempre consigo um resultado que me agrada. Dificilmente reviso um texto. O que escrevi “antes” é o que vale...

8 – Você participa da Academia Feminina ES de Letras (AFESL) e da Academia Espírito Santense de Letras. Gostaria que você nos contasse qual á atuação de tais academias e qual a sua atuação especifica dentro delas.

Resposta: Eu ganhei a cadeira 40 da AFESL em 2008, tendo como patrona Maria Helena Teixeira de Siqueira. Comecei a assistir às palestras da Academia em 2005 e nunca perdi uma reunião. Em 2006, tornei-me membro correspondente. Gosto de ajudar em tudo; estou sempre disponível para quem precisa. Fotografo todos os Encontros e Reuniões; faço os certificados para os palestrantes e apresentações de slides. Acompanho as confreiras nas atividades; amo o que faço e amo as minhas companheiras de Academia. Quanto à Espírito Santense, ainda falta um pouco para chegar lá...

9 – Em especial, a Academia Feminina ES de Letras (AFESL) é algo que nos chama atenção positivamente. Como surgiu a ideia? Chegou a hora das mulheres na literatura?

Resposta: Mais da chegada da hora! Temos valores imensos na Academia e fora dela! A Academia participa de projetos sociais e culturais com muita intensidade. Isso é motivo de grande orgulho para nós. Eu sempre penso, se pudesse, juntava todos estes valores e faria uma Academia enorme! Para se ter uma idéia, temos poetisas, cronistas, cantoras, musicistas, pintoras, escritoras famosas. De outro lado, as mesmas são mães, cozinheiras, artesãs, professoras, estudantes, mestrandas, doutorandas...

10 – Normalmente, encontramos muitos trabalhos artísticos na internet (você participa do “Recanto das Letras”, por exemplo). O que você acha desta ferramenta como meio de divulgação cultural?

Resposta: Eu utilizo o Recanto das Letras para alimentar o meu site, que é administrado pelo Owner. O Recanto cresceu tanto, com mais de cem mil participantes, perdendo um pouco daquela magia que tinha no início, em 2006. No entanto, tenho por eles grande admiração e gratidão, por ter sido o meu primeiro contato com o mundo virtual. Sabemos que o virtual estará, a cada dia, fazendo parte de nossas vidas, como já é, para muitos.

11 – Você acha que espaços como o Outros 300 podem servir de trampolim a jovens escritores ou o que é exposto na internet ainda é muito restrito e dificilmente chegará às livrarias, por exemplo?

Resposta: A cada segundo, um novo blog é criado no mundo. Se não fosse bom, não teria sentido mantê-los. Para os que perseveram, esta é a chave do sucesso, eu acredito. Eu particularmente gosto dos “Outros 300” pela diversidade com que se apresenta, além de ter um visual bonito e moderno e repleto de boas informações. O que eu tenho sentido é o crescimento da leitura virtual, com melhoras e condições significativas, sempre. Os e-books estão aí para mostrar que sim. Eu mesma tenho dezenas deles. É só acreditar!

12 – Falando em livrarias... Qual o seu panorama da literatura atual no país e em especial aqui no estado?

Resposta: Passo horas dentro delas. A realidade tem que ser reconhecida, porém. Nas ilhas das livrarias, o que se vê, em primeiro lugar, são os autores estrangeiros. Os autores locais têm um espaço, mas não nas proporções que merecem.

13 – Temos tido uma invasão de livros de “vampiros pop românticos” e de livros de “auto-ajuda”. O que você acha dessa febre? É válido formarmos leitores com este tipo de livro ou estamos criando uma geração pobre literariamente?

Resposta: Não me faz feliz saber que nossos filhos não se interessam por livros maravilhosos, que estão envelhecendo nas prateleiras. Nunca li os livros dos vampiros, mas deixei meu lado adolescente assistir os filmes e até gostar de alguns efeitos especiais. Livros de auto ajuda existem e sempre existirão. Vendem muito, porque as pessoas estão sós, carentes e precisam encontrar soluções para suas angústias, nem que sejam através de letras, muitas vezes muito mal colocadas, outras até engraçadas...

14 – Você deve conhecer alguns bons (as) escritores (as)... Indicar-nos-ia alguém novo (a) que mereça maior atenção?

Resposta: São tantos os nossos valores que fica difícil indicar alguém em especial, no momento...

15 – Ainda é possível viver de escrever livros no Brasil? Por quê?

Resposta: Vocês não imaginam a quantidade de pessoas que me procuram para que eu dê dicas de como escrever um livro! Cada um tem sua história de vida, seu estilo, seus anseios! Entretanto, poucos vivem de escrever livros. Até os nossos grandes autores tem empregos paralelos. Falta muito, muito...

16 – O que você, como experiente escritora que é, acha dessa nova estilística em misturar poesia e prosa? É possível ou é como querer misturar água e óleo?

Resposta: Foi assim que surgiu a prosa poética. É quando inserimos linguagem de poesia em um conto, ou crônica... Tem prosa que é tão bonita que parece uma poesia!

17 – Falando em poesia e prosa... Qual é o seu processo de criação?

Resposta: Depende muito do momento. Uma palavra que eu tenha escutado pode gerar uma crônica. É como se fotografasse a palavra e a guardasse num cantinho de minha mente. Na hora exata ela sai de lá, em forma de versos, prosa, conto ou crônica. E sempre de manhã cedinho, em total silencio, onde somente a minha respiração é ouvida.

18 – Para terminar gostaria que nos falasse o que mais de Sônia Sâncio Lora-Sunny vem por aí. Quais são seus próximos projetos?

Resposta: A biografia de uma estrela de primeira grandeza, uma tia que faleceu há dois meses, mas que era projeto de longa data, já está nos primeiros dias de gestação. “Sempre aos Domingos” é outro que logo estará impresso. Não quero deixar as crônicas que escrevo com tanto amor só no mundo virtual. Vai que um dia o livro de papel volte a ser a melhor forma de ler?

Foi um prazer enorme estar aqui. Parabéns pelo espaço de vocês, que é especial demais.




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