Werlesson Grassi é ator há mais de 10 anos, atuou em diversos espetáculos capixabas, comerciais, esquetes, entre outros. Professor graduado em Letras-Português pela UFES, Grassi é, efetivamente, um apaixonado pela arte de representar a vida (teatro). Atualmente, Werlesson Grassi se dedica ao Mestrado em Artes Cênicas no Rio. Confira, abaixo, a entrevista com o ator:
1 – Como surgiu essa aptidão pelas artes, e mais especificamente pela atuação, em sua vida? Teve algum momento capital, um insight, em que você disse “cara, vou ser ator”?
Resposta: Trata-se de um sonho de criança. Lembro-me que quando criança, ao assistir à televisão queria entrar naquela caixa preta. Porém, esse sonho ficou adormecido por falta de oportunidade de fazer algum curso na área. Quando completei 15 anos, fiz uma inscrição para um teste de uma oficina de teatro na FAFI, e desde então não larguei mais o teatro.
2 – Como foi o inicio da carreira? Como funciona a arte dramática capixaba? Você precisou fazer testes?
Resposta: Sim, precisei fazer testes. Tanto para o primeiro curso de teatro que participei, por ser gratuito, quanto para o primeiro espetáculo. Porém, funciona muito aqui no estado os convites de diretores ou grupos para que você atue em seus espetáculo. Assim, uma maneira interessante de começar é procurar um curso de teatro, de forma que ao terminar você forme um grupo ou se torne conhecido na área a ponto de ser convidado para um espetáculo ou grupo.
3 – Qual foi sua primeira peça teatral? E a emoção de subir ao palco pela primeira vez, como foi?
Resposta: O primeiro espetáculo que participei foi o “Sexo, drogas e Rock ’n’ Roll” com direção de José Celso Cavaliere. Eu estava ainda bem cru quanto às técnicas de atuação, mas com muita vontade de fazer bem feito. A primeira vez que pisei no palco foi um misto de sensações. Prazer misturado com apreensão.
4 – Fazer teatro (desde produzir, dirigir, até atuar) no estado infelizmente é uma grande barra. Conte-nos, com sua experiência, do dia a dia de uma produção teatral a que tenha feito parte. Como era? Quais eram os principais desafios?
Resposta: Penso que o principal desafio é profissionalizar-se em uma realidade nada propícia para isso. É ampliar seu leque de possibilidades em uma realidade em que a comodidade paira. Além destes, acredito termos dois grandes desafios a enfrentar: a falta de público para as produções locais e a remuneração insuficiente do profissional da área. Quanto ao dia-dia, montar e desmontar cenário, fazer a própria maquiagem, abdicar muitas vezes dos finais de semana, lavar e passar o figurino, ajudar na divulgação do espetáculo, além das atividades referentes à composição do espetáculo. Tudo isso é a rotina de muitos profissionais da área (inclusive a minha).
5 – Nos grandes centros uma peça pode ganhar um “plus” com a presença de atores ou atrizes oriundos do cinema e principalmente da TV. Obviamente no estado isso não é possível. Até onde não ter globais no palco é vantajoso ou desvantajoso numa produção?
Resposta: A desvantagem, a meu ver, de não ter um ator do cinema ou tv, liga-se ao poder de captação de recurso e platéia para o espetáculo destes atores. É inegável que, em muitas produções nos grandes centros, alguns patrocínios só são garantidos pela presença deste ou daquele ator famoso. Também, muitas pessoas só vão ao teatro se a peça contar com algum ator global.
6 – Você já teve experiências com outros veículos de comunicação, em especial com a publicidade. Então, qual seria a grande diferença do teatro para outros nichos de comunicação?
Resposta: Existem várias diferenças por se tratarem de linguagens distintas, cada qual com suas “leis próprias”. Posso apontar duas, a título de exemplo. Na publicidade (tendo em vista a experiência que tive) as funções são muito bem delimitadas e o trabalho do ator é muito individual, diferente da construção atoral no teatro que, dependendo do processo, adota uma perspectiva mais artesanal e coletiva.
7 – Uma pergunta bem simples: O que é o teatro para você?
Resposta: Essa pergunta, nada simples, sempre se desdobra em um emaranhado de respostas, porque o teatro pode ser uma série de coisas. Sem grandes elucubrações, para mim o teatro é uma atividade criativa, é nele que me sinto criador, que me sinto agente no mundo, que me sinto em comunhão.
8 – Uma pergunta de bastidor... Rolam muitos “cacos” (improvisos) durante as peças? Como são desenvolvidos os improvisos quando alguma coisa não saí conforme os ensaios? Conte-nos algum momento inusitado que tenha acontecido com você.
Resposta: Depende. Há atores que gostam de improvisar, outros que preferem seguir uma partitura composta de antemão. O importante é estar aberto para o momento, receber os estímulos daquela apresentação que é única. Um momento inusitado: em um festival de teatro, interromperam a peça Boulevard 83 antes de acabar. Eu, como clown (um dos personagens da peça), tinha que jogar um pano por cima dos atores no final, e o apresentador do referido festival entrou falando antes de eu executar essa ação. Aproveitei que o personagem permitia, puxei o apresentador para fora de cena e joguei o pano. Era um efeito muito interessante esteticamente e amarrava o final da peça, de forma que eu não podia abrir mão dele.
9 – Qual é a grande diferença entre interpretar uma comédia para uma atuação dramática, por exemplo? Você acha que tenha mais queda por algum estilo ou é “pau pra toda obra”?
Resposta: Tratam-se de dois gêneros distintos, portanto apresentam diferenças, mas também pontos de contato. Penso que isto é muito relativo, pois cada processo lida de forma distinta com as características da dramaturgia textual que escolhe (quando o processo parte de um texto), seja ela de que gênero for. Penso que é interessante para o ator experimentações diversas, mas também sei que vamos percebendo ao longo da carreira afinidades com esse ou aquele tipo de teatro. Quanto a mim, não me considero um ator limitado a um determinado gênero, o que é importante é que o processo seja estimulante e desafiador.
10 – O que falta para termos um teatro forte no Brasil e em especial aqui no estado?
Resposta: Vou dizer da realidade que conheço de perto: o teatro produzido aqui no estado. Penso que falta principalmente (não excluo outros fatores) formação de qualidade para os profissionais da área, remuneração adequada e formação de platéia.
11 – Mesmo com incentivo e propaganda, o grande público ainda é avesso ao teatro preferindo o cinema. Por quê?
Resposta: Não concordo que há tanta propaganda e incentivo ao teatro. Faltam mais ações de formação efetiva de plateia.
12 – Falando em cinema... É um pensamento seu enveredar também para a telona e a TV ou você é um rato do teatro?
Resposta: Gosto muito de teatro, mas quero ter experiências em outras linguagens cênicas também. Curto cinema e algumas minisséries produzidas na tv.
13 – Quem são seus grandes ídolos no teatro?
Resposta: Ariane Mnouchkine, Zé Renato Pécora, Drica Moraes, grupo armazém, grupo Teatro da vertigem, entre outros.
14 – Onde poderemos admirar a atuação do Werlesson Grassi nos próximos dias? Quais são seus sonhos e projetos futuros?
Resposta: Meu projeto principal no momento é continuar o mestrado em artes cênicas com dedicação total, aprender bastante, vivenciar a realidade cultural da cidade onde estou morando (Rio de janeiro). Não tenho previsão para voltar à cena como ator (a não ser em projetos a curto prazo, como um curta, etc.), mas estou estudando uma proposta de preparação de elenco de um espetáculo no que se refere à discussão teórica.