Cultura
ENTREVISTA DJAVAN
Temos posto sempre artistas de muita relevância na coluna entrevista do Outros 300. Desta vez aproveitaremos e mataremos dois coelhos com uma cajadada só: Homenagearemos o aniversariante Djavan e ainda aproveitaremos e colocaremos uma bela entrevista dada pelo cantor ao abrir sua última turnê. Lá ele fala sobre trabalho, família, filhos, dentre outros pertinentes assuntos. Confira:
O que aconteceu na entressafra entre o álbum anterior, ‘Matizes’, de 2007, e o atual?
Fiz muita coisa nesse período que não tinha feito ainda. Tenho dois filhos novos. Eu queria estar mais junto deles, pois viajo demais. Foi um novo aprendizado, pois meus primeiros filhos já são adultos. E trabalhei na pesquisa deste disco.
E o que você consegue fazer mais hoje com seus filhos menores?
Faço de tudo. Brinco, levo e busco na escola todos os dias, vou às festinhas dos amigos. É uma delícia. Tem uma coisa que é meio chata, que é festinha de criança. Não aguento mais olhar para aqueles doces. Entro e saio sem tomar nem água. Festa de criança foi o diabo que inventou (risos), embora ela seja necessária.
Bateu arrependimento de não ter feito isso com os mais velhos?
Não tenho problema de culpa, porque era começo de carreira. Era natural que eu não tivesse tempo. Apenas estou tentando ganhar o tempo que perdi, para que eu não deixe de usufruir uma coisa tão boa, que é a relação com filhos pequenos, vê-los crescer.
Você tem uma carreira internacional consolidada, mas houve uma época em que realizou vários trabalhos fora do Brasil. Gravou com Steve Wonder, conheceu o produtor Quincy Jones …
Eu e Quincy somos amigos até hoje. Uma vez, ele me perguntou se eu queria conhecer Michael Jackson. Eles estavam em estúdio mixando Bad. Quincy pediu para eu fazer uma música para Michael. Fiz, mas achei difícil ele querer uma canção com pegada brasileira.
Voltando ao Brasil, algum novo compositor tem chamado sua atenção?
Gosto da Maria Gadú. Ela pode fazer uma carreira muito boa.
Você contou que já sofreu preconceito por ser negro. Como vê essa questão atualmente?
Evoluiu bem menos do que deveria. É difícil resolver o racismo numa sociedade de brancos, preparada pelo branco e para o branco. As cotas nas faculdades são um paliativo. É típico de uma sociedade que não quer resolver o problema e o empurra com a barriga. A solução é igualdade de oportunidade.
O fato de ter se tornado um músico conhecido fez com que o preconceito contra você mudasse?
Comigo as coisas se deram forma diferente à medida que consegui impor um trabalho. Sou negro, nordestino, no entanto, não faço samba de morro nem música nordestina. Nasci num gueto, filho de lavadeira com olhar sofisticado para as coisas. Imagina a luta que tive para impor minha personalidade. E graças a isso estou aqui.
Sua infância foi difícil. Sua mãe foi a mantenedora da casa?
Sim, sustentou a família sozinha: eu, mais dois irmãos e dois primos. A pessoa criada só pela mãe ou pelo pai tem metade da referência prejudicada. Meu pai morreu quando eu tinha 3 anos. Na verdade, ele sumiu da nossa vida. Nunca soube se meu pai realmente morou com minha mãe. Mas ela, uma nordestina arretada, teve força para criar todos e fez de cada um de nós pessoas de bem.
Chegaram a passar fome?
Houve momentos de escassez de alimento, sim. Eu talvez menos, mas minha mãe ficou muitas vezes sem comer.
Nunca houve uma figura masculina que substituísse seu pai?
Não. Ela nunca mais teve ninguém. Sou o temporão. Ela estava mais velha, trabalhando muito.
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