Fabrício Costa, capixaba, natural de Ecoporanga, estuda Geografia na Universidade Federal do Espírito Santo e é poeta por vocação. Escreve desde menino, mas foi em 2010, aos 22 anos de idade, que publicou seu primeiro livro “O Riso que Contrasta”. Nesta obra, o autor nos presenteou com uma coletânea de poemas escritos desde os 12 anos de idade. Atualmente, Fabrício Costa trabalha em um novo projeto que deverá ser publicado em 2013. Confira, abaixo, o poema “Bifurcação”:
BIFURCAÇÃO
Onde está a lua quando mais preciso de luz?
Onde guardei a vontade de fazer sinais de fogo?
Onde colocaram a chama em que queimo minha carne?
Porque me fizeram esquecer onde colocar o azeite, onde ferver a água?
Qual foi a última vez em que vi meu reflexo em uma panela?
Quem puxou meu tapete?
Quem me fez de palhaço?
Como me tornei um palhaço assassino?
Assassino de outros palhaços?
Odeio palhaços! Então porque me transformaram em um?
Qual foi o meu pecado?
Onde está a maldita tesoura quando preciso cortar os ramos desse cipó espinhento que me enrosca como serpente?
Tenho sido constantemente, devorado por uma imensa Jibóia.
Não é agradável ser devorado por serpentes não peçonhentas!
A dor é prolongada, faz clamar: “Eli! Eli! Lama sabactani?”
Quero provar salivas de infinitas cobras!
Será o que farei quando recuperar meus ossos quebrados pelo abraço indesejado da Jibóia.
Colarei meus ossos e tão logo me entregarei à peçonha da cascavel, Sucumbirei aos encantos da Naja,
Dormirei ao lado da Mamba Preta.
Quero ser cobra! E quando a águia vier me devorar, estarei pronto para enchê-la com minha proteína mortal, morrerei em seu estômago e ela morrerá enquanto voa.
Cairá ainda trêmula, da mais alta nuvem, descerá como raio!
Meu cadáver ofídico saltará de sua goela e envenenará os animais que abaixo estiverem passando.
Mas não serei devorado pela águia, pois a matarei antes.
Quando, finalmente, animal peçonhento me tornar, usarei meu veneno para reinar sobre o mundo.
Reinarei sem hipocrisias.
Construirei um império, onde apenas ofídios terão voz, por fim, me descobrirei humano.
A metamorfose terá sido em vão.
Sendo assim, morderei a mim mesmo, beijarei minha própria face, cuspirei em meu corpo, lacerarei meu couro e depois passarei minha língua bifurcada sobre as feridas, me matarei!
O suicídio será insuficiente, pois não há tristeza maior para uma cobra, que se descobrir homem.