Janio Silva, estudante de Serviço Social, começou a escrever poemas influenciado pela cultura Hip Hop e também pelos escritores marginais Ferréz e Sergio Vaz. Os versos críticos e a realidade vivida pela grande camada populacional são características de suas produções. Confira, abaixo, o poema “Morador de rua”:
Morador De Rua
Ele vaga pelas ruas,
Sem destino, sem direção,
Trajado com roupas rasgadas,
Carregando sobre os ombros,
Um cobertor e um velho papelão.
Sua barba é longa, seu é cabelo crespo,
Seus dentes são amarelos, sua pele é escura,
Tem hematomas pelo corpo e um semblante abatido,
Exprimindo a vida que leva, íngreme e dura.
Faz poucas refeições ao dia, às vezes um pão velho,
Às vezes um prato de comida ganhando,
Às vezes alimentos encontrados no lixão,
Que com urubus e cachorros foram disputados.
Sem lar, sem residência,
Vive a mercê do sol, da chuva e da madrugada fria,
Fazendo de viadutos, pontos de ônibus e praças,
Efêmeras moradias.
Talvez ele viva assim, por ter problemas psicológicos,
Por ser viciado em álcool, em crack, em algum tipo de droga,
Talvez por não ter família, talvez por viver na miséria,
Talvez porque ninguém com ele se importa.
Para as crianças o homem do saco,
Para os adultos vagabundo,
Para o sistema um indigente,
Os policias o batem, as pessoas o maltratam,
Será que ele não é humano? Será que ele não é gente?
Considerado um mero mendigo,
Considerado apenas um número estatístico,
Ele é um, de um milhão e oitocentos mil,
De moradores de rua, que vivem jogados as traças,
Jogados ao relento, na imensidão desse nosso Brasil.