Se você perguntar a um crítico qual o grupo que mais influenciou o rock pós-1970, prepare-se para uma surpresa. Não são os Beatles, nem os Rolling Stones, nem qualquer outro figurão. Nove entre dez críticos responderão instantaneamente: Velvet Underground.
Fruto do encontro entre o instinto “rocker” suburbano de Lou Reed e a formação erudita do galês John Cale em 1965, o VU é um dos poucos nomes do rock que realmente merece o pomposo status de “lenda”. A primeira razão para isso é a sua música – parte folk, parte atonal, parte barulho e extremamente intensa – e as letras de Reed, crônicas que passeiam pelo cotidiano da perversão e pela perversão do cotidiano.
Entre os temas prediletos, drogas pesadas (como em Heroin, Waiting for my Man, White Light/White Heat e Sister Ray), devassidão (Venus in Furs) e qualquer outra coisa que horrorizasse simultaneamente o establishment e a contracultura paz-e-amor.
A combinação de letra e música foi descrita na época como “o resultado do casamento secreto entre Bob Dylan e o marquês de Sade”. Faltou citar Lautreamont e as experiências eruditas de John Cage, de quem John Cale se considerava discípulo.
Outra razão para o mito: o Velvet foi o primeiro grupo de rock da história que encanou de fazer “grande arte” – e fez. Teve um papel fundamental na Exploding Plastic Inevitable, trupe multimídia chefiada pelo papa pop e mentor do grupo, Andy Warhol. Além do Velvet tocando ao vivo (e extremamente alto), os shows do E.P.I. incluíam apresentação de filmes, projeção de slides, iluminação psicodélica e dançarinos – e tudo acontecia ao mesmo tempo.
Um ataque aos sentidos sem nenhum precedente, cujo objetivo era, segundo Warhol, “não deixar nada para a imaginação. Finalmente, há a imagem da banda. Reed, Cale, a diva germânica Nico (que só participou do primeiro disco), o guitarrista Sterling Morrison e a baterista unissex Maureen “Mo” Tucker fundaram um modelito imortal. Até hoje tem garoto por aí afetando o look roupa-preta-óculos-escuros-eternos-botinha-bico-fino-atitude-arrogante.
Se você é fã dos artistas dos anos 80 como Nick Cave, Cure e Jesus and Mary Chain, conhecer o Velvet é indispensável. Os vinis básicos são os dois primeiros: The Velvet Underground and Nico (o “disco da banana”, absolutamente clássico) e White Light/White Heat. Eles fizeram outros LPs muito bons, mas a mágica se desfez em 1968, quando John Cale deixou o grupo.
Vinte anos se passariam até Cale e Lou Reed trabalharem juntos novamente. Foi em Songs for Drella, LP em homenagem a Andy Warhol. Mais combustível para a lenda do Velvet Underground.