Heloisa Cardoso é estudante de Artes Plásticas (UFES), escreve contos, adora música e cinema. Já publicou textos no site Recanto das Letras. Confira, abaixo, o conto “Diana”:
DIANA
Contei que sonhei com sua pele passeando sob o sol e você enrubesceu. Fingi que não percebi seu corpo pequeno querendo se deslocar dali e prossegui com meu relato. Disse que meu sonho era em primeira pessoa, e eu caminhava logo atrás de você. Te seguia. Sua nuca me chamava, desviava minha atenção e eu atravessava a rua sem olhar. Quase morria, mas você virava e me sorria. Você me salvava. Contei que seus braços se mexiam e você rodopiava. Contei que meu sonho era o dia mais feliz da tua vida.
Nesse momento você me interrompeu. Levantou a cabeça e tinha os olhos cheios d’água e a boca aberta sussurrava: - pára...
Te segurei pelo pulso. Minha mão apertando firme te machucou. Tive medo de que fugiste novamente. Não me falavas nada, apenas me apontava com o olhar o seu pulso sumindo entre meus dedos, e os seus dedos tão finos já perdendo a cor.
E você me olhava com olhos de criança assustada. Não lhe era novidade o que eu acabara de fazer. Então depois de anos eu percebi que fui para ti não um companheiro, mas um grilhão. Escandalize-me. Ali, pela primeira vez em sua frente, sofri.
Envergonhado afrouxei um dedo de cada vez. Os nós seriam desfeitos. Então você me beijou um por um os olhos. Beijou-me o nariz e as tuas lágrimas ficaram em minhas faces. As minhas, na face sua. Beijou-me de leve os lábios.
- Amo-te, nego.
Deu um último gole na cerveja e foi embora. Caminhou limpando o rosto. Ainda chorando, mas agora já sorria. Era livre, enfim. Vi ao longe quando um carro caro parou ao seu lado na esquina movimentada. Torci para que fosse um perdido buscando informação. Você se inclinou na janela. Sorriu para o chofer e entrou. A luz verde do semáforo iluminava teu rosto, teu colo.
Compreendi. Bebi o resto da tua cerveja e derrotado, sumi...