Antonio Rocha Neto é economista, cronista, filósofo e membro da Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha). Confira, abaixo, a crônica “Entrevista de emprego":
ENTREVISTA DE EMPREGO
Normalmente, nos processos de seleção de pessoal, o Departamento de Recursos Humanos da empresa sempre conseguia selecionar o candidato que considerava ter o melhor perfil para os cargos. Mas daquela vez, excepcionalmente, a Diretora de Recursos Humanos procurou o Diretor-Presidente, logo pela manhã, e comunicou-lhe que para a vaga atual, aquela que exigia do candidato um excelente raciocínio lógico, eles haviam selecionado, entre 127 candidatos, 4 ótimos candidatos, empatados em todas as provas e dinâmicas aplicadas, e que ela achava interessante que o Diretor-Presidente conversasse particularmente com cada um deles, e decidisse pelo que melhor lhe impressionasse. O Dr. Olavo gostou da ideia, e na manhã seguinte os 4 foram à empresa. Foram entrevistados por ordem de chegada. O primeiro foi o Geraldo.
- Bom dia, Sr. Geraldo. Olavo Siqueira Passos da Cruz. Fique à vontade, por favor.
O Geraldo se sentou, e após uns 5 minutos de conversa o Dr. Olavo lançou a isca:
- Vejo, em seu belo currículo, que o Sr. nasceu no dia 16 de maio. Signo de Touro. Sinal de que deve possuir paciência e determinação, características desejadas para a vaga que está disputando.
- Sim, sim, é verdade. E meu ascendente em Capricórnio intensifica ainda mais estas características, e a elas acrescenta o espírito de liderança – diz o Geraldo, todo animado, crente de que estava agradando!
Bom, aquilo era tudo o que o cético Dr. Olavo precisava escutar para, logo, logo, educadamente despachar o pobre do Geraldo, pedindo aguardasse o resultado, que lhe seria informado por e-mail.
A mesma estratégia foi usada com os outros candidatos, e o Carlos Henrique, segundo da lista, ao ouvir o elogio do Dr. Olavo à franqueza e à honestidade dos nascidos sobre o signo de Libra, reagiu assim:
- Desculpe-me então a franqueza, Dr. Olavo, e aproveitando para exercitar a minha honestidade, confesso ao Sr. que mal me lembrava de qual é o meu signo, pois para mim astrologia não passa de mera crendice.
Animado com a resposta, o Dr. Olavo conversa mais um pouco com o Carlos Henrique até que, por fim, submete-o à prova de fogo:
- Muito bem, vejo em seus dados que o Sr. nasceu no dia 28 de setembro, certo? Eu gostaria de saber em que dia do ano o Sr. gostaria de morrer.
Chocado, o Carlos Henrique responde:
- Ora, me desculpe novamente a franqueza, mas o Sr. só pode estar de brincadeira comigo!
- Não, não estou. Estou esperando a sua resposta.
- Pois então lhe respondo. Não faz para mim a menor diferença. Está respondido ou prefere que eu eleja aleatoriamente um dia e mês?
- Não, não precisa. Está respondido. Foi um prazer conversar com o Sr. Aguarde, por favor, nosso retorno em seu correio eletrônico, ainda no decorrer desta semana.
Após a saída do Carlos Henrique, meio atordoado pelo final da conversa, entra o terceiro, ou melhor, a terceira candidata, de nome Cecília. Moça comunicativa e persuasiva em suas argumentações, como convém a todo bom filho do signo de Gêmeos, muito embora a moça fosse do signo de Virgem. Saiu-se tão bem quanto o Carlos Henrique diante dos comentários do Dr. Olavo sobre o quanto valorizava o perfeccionismo e a criatividade dos virginianos, tendo-o, contudo, superado na prova de fogo, quando, diante da pergunta sobre em que dia do ano gostaria de morrer, respondeu, sem titubear:
- No dia 31 de dezembro, com toda certeza!
Muito bom ouvir uma resposta como esta, Sra. Cecília! Já até imagino qual será a sua resposta, mas poderia, por favor, justificar sua resposta?
- Ora, tendo eu que morrer em um dia qualquer de um ano em que estarei viva, espero vivê-lo até o último dia!
- Maravilha!, comenta, empolgado, o Dr. Olavo. Então, para finalizar nossa conversa, me reponda: em que ano gostaria de morrer?
- Bem, deixe-me fazer umas continhas… Estamos em 2012. Tenho 25 anos. Em 31 de dezembro de 2087 já terei completado meus 100 anos, certamente com uma big festa, com meus filhos, netos, bisnetos e, com muita sorte, meu marido, que terá então 103 anos. Posso morrer nesta data.
Despediram-se, com o Dr. Olavo muito entusiamado. Acreditava até que o quarto entrevistado não teria a menor chance, porque a Cecília, além de tudo, era bonita, e muito carismática.
Por fim, entrou o último candidato. O Dr. Olavo deu início à mesma conversa que teve com os demais, e só se animou ao ouvir o Joel responder, sem pestanejar:
- No dia 31 de dezembro, e de preferência perto da virada, para poder comemorar a entrada do ano novo.
- Maravilha, maravilha! Então, para finalizar nossa conversa, me responda: em que ano gostaria de morrer?
- Sem dúvida, no primeiro reveillon em que eu já não tenha a menor ideia de que ano está terminando e de que ano está começando!
- O Sr. está contratado!!!